A Economia de um
país tem seus ciclos naturais de expansão e contração. Esses ciclos são
provocados por condições internas e externas do mercado e outras variáveis
macroeconômicas.
Os governos têm seus
instrumentos para influenciar nesses ciclos, sendo o mais importante a taxa de
juros. Quando a economia demonstra aquecimento, com reflexos na inflação, o
governo, representado pelo Banco Central, sobe a taxa de juros, tornando o custo
do dinheiro mais alto e esfriando a atividade econômica. O contrário também é
verdade: quando a economia cresce pouco ou até decresce, a queda da taxa de
juros serve como estímulo para facilitar o crédito, baratear o dinheiro e
incentivar o investimento.
O governo dispõe de
outras ferramentas para agir na condução da economia. Um outro exemplo é o
depósito compulsório que os bancos têm obrigação de recolher ao Banco Central.
Diminuindo a taxa do compulsório, injeta liquidez no mercado, aumentando a base
monetária para os bancos emprestarem. Há uma facilitação do crédito, com
reflexo nos investimentos, na oferta, e consequentemente, na atividade
econômica. Esses investimentos geram emprego, aumentam a renda da população,
incentivam o consumo e ampliam a demanda por bens e serviços.
Outra forma de o
governo atuar na economia é aumentando a liquidez do mercado, comprando títulos
e injetando dinheiro, quando a economia demonstra desaquecimento, ou, em
sentido inverso, vendendo títulos e enxugando dinheiro na economia, para
moderar a atividade econômica.
O governo também
pode utilizar a política fiscal para estimular a economia, por meio de corte de
impostos. O aumento da carga tributária tem o efeito inverso de incrementar os
custos gerais da economia, encarecer os produtos e frear a demanda.
Em todos esses
exemplos que citei acima, o governo normalmente age de forma anticíclica.
Incentiva quando a economia cai ou aperta quando a atividade demonstra expansão
excessiva.
Trazendo para o
campo da política, os governos de esquerda, os do PT e especialmente o da
Dilma, tendem a utilizar esses instrumentos da forma convencional
(anticíclica). Mas normalmente exageram e continuam com os estímulos, mesmo
quando a economia já reagiu ou mesmo quando não surte mais os efeitos esperados
pelo esgotamento do modelo, pois há um limite para o incentivo ao consumo por
meio do endividamento das famílias e das empresas. A consequência disso é a
inflação crescer além das metas estabelecidas e o endividamento inflar em
relação ao PIB. Enquanto esse estiver crescendo, a relação mantém-se estável. O
problema é quando o inevitável aumento da taxa de juros para combater a
inflação faz a economia desacelerar, fazendo o endividamento explodir. A
dependência por estímulos e por crescimento torna essa equação difícil de
alcançar um equilíbrio.
Já os governos de
centro-direita, representados no Brasil pelos governos do PSDB, pelo governo
Temer e agora pelo governo Bolsonaro, focam excessivamente na austeridade, nos
cortes orçamentários, mantendo a taxa de juros em patamares acima do que seria
necessário para manter a inflação nas metas, e fazendo a economia crescer menos
do que o seu potencial.
É claro que um
endividamento crescente requer dos governos um freio nos gastos públicos, isso
é bastante óbvio. O problema é a dosagem. Revisitando o período do segundo
mandato da Dilma, o cenário era de economia desaquecendo, com os gastos
crescentes, seja por medidas do governo, seja pelas pautas-bomba do Eduardo
Cunha. Um exemplo disso foi a desoneração da folha, que serviria para estimular
os setores intensivos em mão-de-obra e evitar o aumento do desemprego. Chegando
ao Congresso, a Medida Provisória que atendia principalmente os setores de
Tecnologia da Informação e Tecnologia da Informação e Comunicação, ampliou-se
para mais de 40 setores, provocando uma renúncia de receitas em um momento de
contração de receitas e aumento de despesas. O resultado disso foi a escalada
do déficit.
Não bastasse esse
cenário de encolhimento da receita, implementaram o choque de juros em uma
economia que não estava reagindo, ao contrário, estava em um processo de
contração violenta. Foi uma quimioterapia em um doente terminal. Ou uma
cirurgia altamente invasiva em um paciente em coma. Enfim, foram medidas
pró-cíclicas. Aí já sabemos o resultado, que culminou na queda da presidente,
na posse do Temer e...mais medidas pró-cíclicas.
Em uma eleição
anti-PT, o Bolsonaro ganha, trazendo o Paulo Guedes e, pasmem, mais medidas
pró-cíclicas. Não há economia que resista a tantos desestímulos. Não será a
reforma da previdência a solução para a recessão que se avizinha. Essa reforma,
que também é uma medida pró-cíclica, pois embora tenha por principal objetivo
diminuir os gastos previdenciários e adiar a aposentadoria pelo aumento da
idade, impacta a renda geral da população pelo aumento da alíquota e redução
dos benefícios. É um círculo vicioso de diminuição das receitas do Estado, do
encolhimento da renda disponível e as consequências são recessão e desemprego.
Para o mercado de
ações, a reforma trará talvez um rali que faça o principal índice da nossa
bolsa ultrapassar quem sabe os 125 mil, 130 mil pontos. Os ganhos iniciais e as
expectativas podem ser positivos, mas não serão sustentáveis, pois não há
milagre na economia para demanda em contração. Os lucros diminuem e os preços
se ajustam.
0 Comments
Postar um comentário
Deixe seu comentário aqui! Críticas, sugestões, elogios. Responderei o mais breve possível.