James G. Rickards é um advogado americano, palestrante, especulador de ouro, autor dos livros "As Guerras Cambiais", "A Febre do Ouro", "A Morte do Dinheiro", "A Grande Queda", "O Caminho para a Ruína" entre outros.

No seu livro "A Febre do Ouro" ele faz uma analogia sobre o que você deve fazer para antecipar-se aos acontecimentos, seja uma crise, seja outro evento relevante. Você deve observar os sinais que antecedem um evento dessa natureza. Em um exercício ilustrativo, ele supõe partir em uma jornada sem identificar em qual caminho está percorrendo, tendo conhecimento que há 4 estradas possíveis. Sabendo que no caminho para determinado lugar você saiba que tem determinados estabelecimentos, ao ir passando e identificando um a um, você consegue ir eliminando as opções, para finalmente acertar o destino que está seguindo. A mesma técnica pode ser utilizada para a se precaver de fatores que afetam suas finanças, bem como outros aspectos da economia. Se você conseguir interpretar os sinais corretamente, terá uma ferramenta poderosa para se posicionar proativamente e se proteger do que virá.




A partir dessa analogia, será que poderíamos detectar antecipadamente esses sinais agora? Que sinais seriam esses e qual evento extraordinário poderia nos atingir? Imagina que isso fosse possível e quanto isso valeria aos nos posicionarmos antecipadamente, seja desmontando uma carteira de ações e indo para um porto seguro, seja comprando seguros que nos protegeria da ruína financeira.


Eu acho que já há sinais muito claros por toda parte de que o sucesso desse governo dependerá quase que exclusivamente da aprovação ou não da reforma da previdência. Por que afirmo isso? Pelos sinais de que falei aí em cima. Que sinais seriam esses?

O primeiro e mais evidente é a demonstração de uma certa incapacidade da equipe em se articular adequadamente no Congresso. Isso já era latente desde a campanha, mas o mesmo não foi submetido a escrutínio, favorecido pelo atentado sofrido. Acabou não participando de debates importantes e foi poupado pela imprensa em quase toda a campanha e principalmente após o ocorrido. Muitos detalhes do plano de governo para a economia, teria sido debatido antes e se tornado público para todos.

O governo não consegue se desvencilhar do seu discurso de campanha e descer do palanque para governar. Não há um projeto de país e nunca existiu um plano de governo. O único item da pauta é a reforma da previdência e nem isso é defendido publicamente. Aliás, na campanha o candidato se posicionou claramente contra. É como estivesse refém da sua própria equipe econômica de pauta única: ou entregam a reforma ou a equipe sairá desgastada do episódio ou até nem permaneça. O próprio Paulo Guedes já mencionou recentemente que se a reforma não sair conforme planejado, ele deixaria o governo.

Imagina a mudança no principal nome da equipe econômica em menos de um ano de governo! A ampla maioria alcançada na eleição vem se esvaindo a cada tropeçada: dificilmente teria hoje o mesmo apoio de antes. E a capacidade de queimar capital político é extraordinária. Isso é até natural em qualquer governo: entra com boa popularidade, aproveita a onda para medidas importantes e se fortalece para concluir o mandato e até se projetar para uma possível reeleição. O contrário pode também ocorrer, com medidas impopulares, falta de apoio para implementar uma agenda planejada e acabar com baixa popularidade ao final do mandato, caso mais provável pelo desenrolar dos fatos.

Um outro sinal de que não terá vida fácil no Congresso é a questão da reforma da previdência dos militares. Embora o discurso seja de que irá combater privilégios, mantém uma casta fora do projeto de reforma. Já há posicionamento de algumas bancadas de que a reforma só caminha se a proposta para os militares for apresentada e discutida conjuntamente.

É como se jogassem tudo numa única cartada. Ou aprovam e sobrevivem ou a imponderabilidade da não aprovação elevará o cenário a um ambiente de incerteza e caos de consequências imprevisíveis. Isso não se dá pela inevitabilidade da reforma, mas da posição em que se colocaram para um evento binário dessa natureza. No artigo "A Reforma da Previdência e os Eventos Binários" falo da dualidade desse tipo de evento, embora as consequências de qualquer dos dois resultados pertença a uma escala gradativa entre o melhor e o pior.

Quando o governo Temer aprovou a PEC do teto de gastos, condicionou a que uma reforma da previdência teria que ser aprovada, sob pena de, em poucos anos, os gastos previdenciários baterem no teto e nada sobrar para outras áreas, inclusive educação, saúde e investimentos.

De certa forma, a armadilha já foi acionada antes mesmo desse governo começar. O governo anterior até tentou, mas fatos supervenientes (Joesley's Day e seus desdobramentos) impediram que isso ocorresse. Lá também, o capital político foi "gasto" para apagar aquele incêndio. Agora, tem alguns princípios de incêndio para serem apagados e por enquanto é só fumaça, mas o fogo pode aparecer.  Falo aqui dos fatos mal esclarecidos e amplamente divulgados sobre milícias, queirozes e cia limitada. Mas a pauta aqui não é essa.

Voltando à pauta única, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) já foi instalada e parece ter pretensões de caminhar para apreciar a proposta ainda em março. Acompanharemos se o fato do presidente da comissão ser alguém em primeiro mandato e com pouca experiência possa prejudicar o andamento dos trabalhos. Mas o problema talvez não seja só esse. Afirmar que uma nova política será implementada no trato com o Congresso, sem fisiologismos, não parece funcionar na prática. Foi divulgada a liberação de R$ 1 bilhão em emendas, mas negado que tivesse relação com a reforma da previdência. O Ministro da Economia propôs uma PEC para desvinculação total do Orçamento, dando poderes para os parlamentares decidirem onde alocar e propondo novo pacto federativo. Sinalizações de que a prática é diferente do discurso.

A jornada está só começando e muito ainda tem para percorrer, mas a importância desse evento para o cenário de investimentos é crucial. O blog tem como pauta questões relacionadas a finanças e investimentos e acabei falando bastante de política. Mas não tem como desvincular uma coisa da outra. É obrigatória a nossa atenção para o que ocorre na política e especialmente nas questões que tem impactos financeiros na vida de todo mundo. E esse acompanhamento deve ser feito de forma sistemática, anotando cada sinal para identificar que caminho está sendo trilhado, como sugeriu o James Rickards, e qual o cenário que estará se formando, para nos anteciparmos em nossas decisões de investimento. Esse foi o propósito do artigo.