Diante da ótima repercussão do último post "Uma Aposta Na OI", em que revelo uma das
ações que compõe a minha carteira, resolvi tornar público mais um ativo: a
CIELO.
Ainda sobre o artigo
anterior que trata da OI, lá informo sobre as expectativas e sobre o que deve
ocorrer para o case ter sucesso. Enfim, a tese de investimento. Alexandre
Elder, autor russo-americano dos melhores livros sobre trading, no livro
"Aprenda a Operar no Mercado de Ações", ensina que o investidor deve
manter um diário de anotações e, entre essas anotações, deve ter um resumo dos
motivos que justificaram a entrada naquele ativo. Você poderia me perguntar:
por que citar um autor, cujo livro trata de operações baseadas mais em análise
gráfica do que fundamentos, para justificar uma compra de uma ação? Minha
resposta é que os conceitos e as ideias do livro aplicam-se também para outras
modalidades de investimento, baseadas em fundamentos, como position ou buy and
hold. E as anotações e a escrituração dos investimentos é uma dessas ideias. O
investidor deve contar para si próprio uma história sobre a empresa, os fatores
que a influenciam, os riscos e principalmente os fatos que deverão se
concretizar para ter a sua tese de investimento realizada. É uma espécie de
autoconvencimento sobre se deve ou não investir naquele empreendimento.
Interessante dessa prática é que pode fazer você mudar de ideia: ao estudar a
empresa previamente no radar, examinar o histórico dos resultados, os riscos
envolvidos e o cenário para o futuro, pode constatar que há mais elementos
negativos do que positivos, chegando a conclusão que deve ficar de fora. Se o
contrário for verdade, a escolha será pela aquisição do investimento.
A CIELO presta serviços de credenciamento de estabelecimentos comerciais e de estabelecimentos prestadores de serviços para a aceitação de cartões de crédito e de débito, bem como de outros meios de pagamento ou meios eletrônicos necessários para registro e aprovação de transações não financeiras. Entre os serviços inclui também o aluguel, o fornecimento e a prestação de serviços de instalação e manutenção de soluções e meios eletrônicos ou manuais para a captura e processamento de dados relativos às transações decorrentes de uso de cartões de crédito e de débito, bem como com outros meios de pagamento ou meios eletrônicos necessários para registro e aprovação de transações não financeiras e dados eletrônicos de qualquer natureza que possam transitar em rede eletrônica. A descrição desses serviços foi extraída literalmente do Estatuto Social da Companhia. São os principais serviços, embora tenham outros no seu objeto social.
No mercado onde
opera a CIELO, existia praticamente um duopólio. A CIELO e a REDECARD detinham
cerca de 90% do mercado. Isso começou a mudar quando o Banco Central quebrou em
2017 a exclusividade do uso dos cartões da bandeira VISA, para as máquinas da CIELO,
e a REDECARD, para a bandeira Mastercard. A partir daquele ano as maquininhas
deveriam estar preparadas para aceitar o pagamento com cartão de todas as
bandeiras. Essa medida abriu o mercado para uma forte concorrência. Surgiram
outras empresas credenciadoras de pagamento como a Getnet, a Stone e a
PagSeguro, entre outras. A Stone e a PagSeguro, de olho em crescimento e
solidez financeira, abriram capital na Bolsa de Nova Iorque. Ganharam
musculatura e buscaram fatia dos líderes do mercado.
Desde então a CIELO
perdeu participação de mercado e suas margens caíram.
Os gráficos abaixo
foram elaborados a partir dos dados extraídos do Oceans14 (www.oceans14.com.br), de 2009 a 2018.
A Receita Líquida
cresce durante o período, ao passo que o Lucro cresce em um ritmo bem menor e
chega a cair no último ano, em 2018.
A consequência são
as Margens em queda, tanto a bruta com a EBIT. O Retorno sobre o Patrimônio
Líquido (ROE) despenca de um máximo de 178% em 2009 para 24% em 2018 (linha
amarela).
O Patrimônio Líquido
cresce. A Dívida Líquida cresce na mesma proporção até 2015, para depois cair
significativamente.
O Fluxo de Caixa
Operacional mantém uma linha ascendente, com queda de 2017 para 2018. O Fluxo
de Caixa Financeiro mostra queda forte a partir de 2015. Coincide com a
diminuição significativa da Dívida Líquida. A queima de caixa no período pode
indicar que foi utilizada para amortização de dívidas.
O valor da ação que
atingiu seu pico em 2016, na faixa acima de R$ 27 reais, no qual o mercado
precificava um crescimento, vem corrigindo fortemente e ao final de 2018 formou
fundo em R$ 8,70. O indicador P/L que em junho/2011 alcançou a marca 29,93, no momento
está em suas mínimas históricas, cujo mínimo foi de 6,56 em novembro/2018. No
momento em que escrevo está mais próximo de 9.
De fato, a cotação
da ação acompanhou a queda das margens e da lucratividade e não foi sem razão.
O mercado excluiu do preço qualquer crescimento futuro. O indicador P/L, em
níveis abaixo de 9, parece indicar uma empresa no seu período de maturidade,
com baixo crescimento.
Na teleconferência dos resultados do 4º trimestre/2018, o presidente da empresa mencionou sobre a escolha da empresa entre manter a margem de lucro ou a participação de mercado, revelando a opção pela segunda. Informou também que 2019 seria um ano de ajustes, para voltar a crescer os lucros a partir de 2020. A aposta da empresa é na combinação de prestação de serviços, aumento da base de clientes e um maior volume de operações de antecipação de recebíveis. A CIELO tem concentrado esforços para ganhar participação no segmento de pequenas e médias empresas, nicho mais explorado pela PagSeguro e pela Stone. A CIELO também entrou no segmento de venda de máquinas da sua marca. Antes atuava somente no aluguel.
A estratégia da
empresa em perder em margem e ganhar em escala dará certo? Investir na empresa
é acreditar no sucesso dessa empreitada. Para o acionista, o dividend yield
supera os 12% e o dividend payout superou os 100% do lucro em 2018, ou seja,
distribuiu valores superiores ao lucro do período. Essa prática não é
sustentável, mas a empresa prometeu manter entre 70 a 100%. A empresa já
declarou dividendos em 2019, de R$ 0,26 por ação, ainda possível de ser
capturado pelo acionista que adquirir a ação até dia 22/02/2019, último dia
com. Representa mais de 2% de rendimento sobre o valor da ação hoje.
Considero a ação
descontada aos níveis atuais, pelos indicadores fundamentalistas, como P/L,
P/Ebit e EV/Ebit. A Administração está reagindo à concorrência e já demonstrou
qual será a estratégia, que acredito terá sucesso, pela competência que a
empresa sempre demonstrou em entregar valor ao acionista. A CIELO tem
envergadura financeira, capaz de abrir mão de parte do lucro hoje, para colher
frutos no futuro, seja se reinventando por meio da tecnologia, com novos
serviços, seja pelo ganho de escala diante de seu considerável market share.
Graficamente, formou
fundo duplo na região acima de 10,30 e encontra-se no momento em tendência de
alta no curto prazo. Alvos em 13,30 e 15,30, para os adeptos do swing trading.
Para os investidores de longo prazo, que acreditam que a estratégia terá sucesso,
há possibilidade de valorizações mais expressivas, sem contar o retorno em
dividendos.
Eu contei a minha
história e não precisa acreditar nela. Aliás, recomendo que você conte a sua
própria história, por sua conta e risco. E se entender que a CIELO continuará a
perder participação e margem, pode entrar vendido na ação. Ou não fazer nada e ficar
de fora.
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