No artigo anterior,
opinei sobre a melhor estratégia para 2019, diante do cenário indefinido e das
incertezas: comprar ações para curto prazo
(swing trade), diminuindo os riscos de posicionar-se em ativos por tempo
prolongado. Mas quais ativos escolher e que critérios utilizar nessa escolha,
de forma sistemática?
É necessário
estabelecer regras claras para definir aqueles ativos que ficarão no radar para
compras, bem como para definir em que momento entrar e sair. Enfim, elaborar um
Sistema, com regras bem claras e não fugir dele.
O fator psicológico
do investidor é muito importante nesses casos. A escolha pelo curto prazo
favorece esse aspecto. É muito desgastante emocionalmente manter uma carteira
que não performa bem por um longo período. Vem sempre à cabeça que esse
investimento poderia ser liquidado e reinvestido em outras oportunidades que
passam à porta toda semana. E ao deixar claro o prazo do investimento, o
momento de entrar e sair, as regras que serão seguidas em cada caso,
proporciona tranquilidade ao operador na escolha certa do ativo. Vamos a elas:
1 -
Volatilidade - o ativo a ser comprado precisa ter variações
significativas nos preços em curto espaço de tempo. Muitas empresas têm ótimos
fundamentos, pagam bons dividendos, mas o preço da ação pouco se movimenta. A
tendência é que sejam alvo de investidores fundamentalistas de longo prazo e
exatamente por isso, não são ativos para traders. Como avaliar se o ativo tem
volatilidade? Pode-se utilizar o indicador "volatilidade histórica"
acessível na maioria das ferramentas gráficas disponibilizadas pelas corretoras.
Pode-se também fazer um cálculo mais simples: observar o preço mínimo e o preço
máximo atingido pelo ativo nos últimos 180 dias e verificar a amplitude de
variação. Exemplo: preço mínimo: 8 reais; preço máximo 9,20; amplitude de
variação 15% (9,20/8 - 1). Entendo necessário mais de 30% de variação, para
permitir trades, pois o investidor não irá conseguir captar todo o movimento,
que terá como alvo pelo menos 10% de retorno em até 6 meses. Ideal que a
escolha recaia sobre ativos que se movimentam bem mais do que isso.
2 - Avaliar o cenário macro geral, antes de
qualquer entrada. Seja cenário político interno ou mesmo o cenário externo,
câmbio etc. Haverá momentos em que não fazer nada será a melhor opção. Saber
esperar o momento certo de ir às compras é fundamental para o êxito nessa
modalidade. Sempre ocorrem dias de sell-off, em que os ativos despencam por um
fato específico e as vezes até por ausência de qualquer motivo aparente.
Aqueles ativos que já devem estar no radar e foram previamente analisados,
alcançam aquele ponto de entrada definido e permitem compras com margem de
segurança. O índice Ibovespa é um bom termômetro para identificar tendência
geral do mercado. Um otimismo generalizado no mercado tende a se disseminar
para a maioria dos ativos. Há investidores que gostam de acompanhar tendência e
operar rompimentos. Não vejo isso como uma boa estratégia. Prefiro escolher
ativos descontados, sobrevendidos, mas que ensaiam a formação de fundos. Ao
comprar no início do movimento ou até contra tendência, o retorno será bem
maior. É claro que o risco também aumenta, lógico.
3 - Deve-se usar o stop inteligente. A entrada
ocorrendo em suportes, o risco de o ativo fazer fundos muito mais baixos fica
reduzida, a não ser que algum evento extraordinário provoque isso. Nesses
casos, se a entrada for após a divulgação do fato, é necessário verificar ao
longo de alguns dias se o fato já foi devidamente precificado. Aqui se evita
tentar "pegar faca caindo" e se cortar gravemente. Espera a
estabilização da queda e até a formação de um fundo consistente. Verificando-se
que a entrada não foi acertada, pode-se optar pelo reforço da posição, se
entrada foi parcial (fundo intermediário) ou esperar repique para saída, se
entrada foi em cota cheia (fundo mais baixo). O stop automático não deve ser
utilizado, pois se for muito próximo do preço de entrada, pode ocorrer a
"violinada" (o ativo desce ao stop, zera sua posição e depois sobe).
Se for muito abaixo do preço de entrada, o prejuízo pode ser significativo.
Preferível stop inteligente. Avalia sempre o cenário para o ativo, a reação do
mercado e ao verificar que ativo acabou caindo mais do que o esperado, pode-se
reforçar ou desmontar após repique. Você não acertará todas as vezes. Naquelas
em que errar, desmonta-se sem lucros ou com pequenas perdas.
4 - Prazo máximo definido - swing trade tem que ter prazo máximo
definido. Pelo histórico de volatilidade do ativo, o movimento até as
resistências conhecidas leva uma certa quantidade de dias (candles), com algumas variações. Ao montar o
trade, deve-se estabelecer uma data máxima, com alguma flexibilidade, quando o
ativo deverá ter realizado o movimento esperado. Caso isso não ocorra, pode-se
optar pela desmontagem da posição e escolha de outro ativo dentre os que estão
no radar. Essa regra deve ser mais rígida principalmente quando a liquidez do
seu capital estiver muito baixa, ou seja, quando o valor separado para renda
variável estiver excessivamente alocado em ações. Se a exposição for baixa, pode-se
optar por permanecer com a posição por mais alguns dias à espera do movimento
planejado para o ativo.
5 - Definir preço de entrada e pelo menos dois alvos
- pelo gráfico se define o ponto de entrada, que deve recair sobre aqueles
suportes fortes, considerados aqueles que foram testados mais de uma vez. Não
precisa ser milimétrico, alguns centavos acima podem ser aceitos, para não
perder a oportunidade de entrada. Quanto mais bearish
o mercado, menos flexibilidade deve ocorrer para isso. Ativos com alta
volatilidade podem ter o preço de entrada relativizado e aceitos suportes
intermediários, uma vez que o movimento nesses casos é muito rápido, tanto para
cima como para baixo. Os ganhos também podem ser limitados, pois o ativo pode
inverter tendência muito rápido, antes mesmo de alcançar as resistências
históricas. Os alvos serão marcados em
função dessas resistências: uma intermediária e outra mais acima, que será
alcançada caso o movimento de alta for consistente. Vencido o prazo definido no
item 4, com alguma flexibilidade, aceita-se o alvo intermediário e realiza
lucro.
6 - Tamanho da posição - isso vai variar de
acordo com o capital do investidor. Mas em termos percentuais precisa ter
relevância. No livro "Axiomas de Zurique", de Max Gunther, o 1º
axioma menor do Risco diz "só aposte o que valer a pena. Não tenha medo de
arriscar um pouco". Sobre conselho
do George Soros, o Stanley Drukenmiller disse: "quando você tem uma
convicção no negócio, tem de ir na jugular. É preciso coragem para ser
ganancioso". Vamos exemplificar com números: digamos que seu capital seja
100 mil reais e que separe 30% para a renda variável. Para simplificar, esses
30 mil reais serão todos aplicados em swing trade. Se diversificar demais, o
lucro com cada operação, que pode durar até 6 meses, pode se tornar irrelevante
para seu capital. Então, imagino uma posição de pelo menos 5 mil reais em cada
aposta, o que daria até 6 apostas simultâneas de curto prazo. Digamos que
dessas apostas, apenas 4 deram lucro, uma com pequeno prejuízo e outra no zero
a zero. As que deram lucro, retornaram em média 10% em até 180 dias. Então,
foram 20 mil reais rendendo 10%. Total dos ganhos 2 mil, que representa 2% do
seu capital todo e 6,6% do seu capital para renda variável. Claro que nem todas
os trades durarão 180 dias e certamente nesse período a quantidade de operações
será maior e o retorno também. Se os valores em cada operação forem menores,
certamente o retorno final será também menor. Portanto, cada compra tem que ter
relevância. Se a escolha for bem criteriosa, o risco fica mitigado e a chance
de sucesso aumenta.
7 - Os ativos tem que ter bons fundamentos? -
não é fator prepoderante para a escolha para curto prazo. É claro que
satisfeitas as outras condições de volatilidade, desconto em relação ao valor
histórico, entre outros, se o ativo tiver bons fundamentos é possível que
durante o trade possa até distribuir dividendos, melhorando a rentabilidade.
Mas muitos ativos especulativos, que estão em processo de recuperação ou
beneficiadas por algum fato importante, possam rentabilizar muito mais em
função disso, do que aqueles com bons fundamentos. É importante ressaltar que a
ocorrência de um fato negativo para a empresa não é um fator em si impeditivo
de uma aposta em swing trade no ativo. O cuidado é ter uma razoável certeza de
que o fato está precificado e, mais importante ainda, mal precificado exageradamente
para baixo. Aí abre oportunidade clara de repique para correção desse exagero
do mercado.
Citei acima os
fatores principais para montagem de um Sistema para Swing Trade e que utilizo
nas minhas operações. Cabe a cada investidor adequar ao seu modo de operar,
fazendo adaptações que achar necessárias. Bons trades!
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