Esse setor teve um
impulso muito forte nos governos Lula e Dilma. Houve um incentivo que
proporcionou a abertura de muitas faculdades particulares, tendo como principal
fator o financiamento público aos estudantes, chamado FIES. É um programa
criado pelo governo com o objetivo de ampliar o acesso de estudantes a cursos
de graduação, cujas famílias tenham um certo nível de renda, por meio de um
crédito educativo. O resultado disso foi o aumento significativo do número de
matrículas em universidades. A consequência foi a corrida dos maiores grupos
educacionais por recursos baratos para sua expansão por meio da oferta pública
de ações em bolsa. Hoje, o setor conta com 4 principais empresas listadas: A
Kroton, a Estácio, a Ser Educacional e a Anima Educação.
1 - Kroton (KROT3)
Segundo dados
extraídos do site da empresa, surgiu na década de 60 como um curso
pré-vestibular de nome Pitágoras, em Belo Horizonte. O sucesso incentivou a
criação do Colégio Pitágoras na década de 70, com um método inovador na área de
ensino. Nas décadas seguintes foi criado a Rede Pitágoras, composta por vários
colégios utilizando o mesmo método de ensino, culminando com a criação da
Fundação Pitágoras, para viabilizar projetos educacionais em instituições
públicas e privadas, como parte de um projeto para perenizar a organização. No
início dos anos 2000, cria-se a primeira faculdade Pitágoras. Em 2007, o grupo
abre capital na bolsa de valores e desde então, após sucessivas aquisições,
torna-se o maior grupo educacional do Brasil.
A tentativa
de aquisição do grupo Estácio, em 2016, que foi reprovada pelo CADE, devido a concentração excessiva no ensino superior, fez a Kroton se aventurar pelo ensino básico, adquirindo o Grupo Somos Educação em 2018, considerada pelo mercado como muito cara. Os resultados desse último passo estão por se provar. Durante
o período de forte crescimento do faturamento, dos lucros e dos dividendos,
a ação chegou a atingir patamares próximos a 21 reais. Atualmente, encontra-se
em patamares próximos a 10 reais. Ou seja, desde sua máxima, já perdeu mais da
metade do valor. Em termos de valuation,
apresenta os indicadores P/L e P/VP de, respectivamente, 10,6 e 1,12, a mais
descontada do setor. Para entender esses indicadores, sugiro a leitura do meu
artigo Principais Indicadores Fundamentalistas.
O mercado parece ter precificado que não há mais muito espaço para crescimento,
diante do novo governo, que deve fazer cortes no FIES e nas verbas para
educação como um todo. Esse fato deve atingir a todas as empresas do setor.
2 - Estácio (ESTC3)
A Estácio é o
segundo maior grupo educacional do país, surgido na década de 70, com a
Faculdade de Direito Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Ainda nos anos 70
incorpora novos cursos e passa a se chamar Faculdades Integradas Estácio de Sá.
Na década de 90 expande-se para o interior e depois para outros Estados do
Brasil. Abre capital em bolsa de valores em 2007. Em 2009, começa a oferecer
Educação à distância (EAD), normalmente nicho mais lucrativo. Sempre focada em
tecnologia, lança material didático gratuito físico e depois digital, por meio
de tablets. Em 2013, faz importante aquisição dos grupos UniSeb e Assesc, em
Brasília e Santa Catarina, respectivamente. O grupo Estácio tem bastante
capilaridade e atua em todas as regiões do Brasil. Mostra crescimento do
faturamento e do lucro nos últimos 10 anos. Em valuation,
tem P/L e P/VP, de 14,8 e 2,92, bem menos descontada que a Kroton. Nos últimos
anos o preço da ação chegou a atingir 8 reais e, no pico, valores superiores a
36 reais. Hoje, orbita em torno de 30. Tem perspectiva de crescimento, mas o
fator FIES pode pesar nesses planos, embora disponha de financiamento próprio
para estudantes, o que pode minimizar esse cenário.
3 - Ser Educacional
(SEER3)
O Grupo Ser é mais
novo e surgiu em 2004, como cursinho preparatório para concursos. Expandiu sua
atividade para o ensino superior incialmente no Nordeste, mas hoje atua em
outras regiões do país, por meio de crescimento orgânico e por aquisições. Tem
como sua marca mais forte as Faculdades Maurício de Nassau e Faculdades Joaquim
Nabuco. Abriu capital em bolsa em 2013. Em 2016, chegou a fazer proposta para
aquisição da Estácio, mas foi preterida pela Kroton, negócio esse mencionado
acima que veio a fracassar, por reprovação do CADE. A SER não voltou a fazer
proposta pela Estácio desde então. Isso não impede que venha a ocorrer no
futuro, embora o setor já esteja bastante concentrado nos maiores grupos, o que
pode dificultar a aprovação desse tipo de operação. O P/L e o P/VP da Ser no
momento está em 15,42 e 1,72, respectivamente, mais próximos do nível da
Estácio do que da Kroton. A receita e os lucros apresentam crescimento, mas não
com a força e consistência dos dois grupos maiores. Tem geração de caixa forte,
mas a distribuição de dividendos é tímida, com 2,2% de dividend yield. Por ser
um grupo menor, tem margem para crescimento, inclusive por aquisições. O valor
da ação nos últimos anos variou entre a mínima de 5,50 e a máxima de 33,70.
Hoje, encontra no patamar de 20 reais. Em termos de volatilidade, não podemos
reclamar. Ideal para os swing traders.
4 - Anima Educação
(ANIM3)
É o menor grupo dos
principais listados em bolsa. Abriu o capital em 2013. Originário de São Paulo,
o grupo atua em outros estados das Regiões Sul e Sudeste. Em termos de
valuation, é a mais cara do setor, com P/L de 49,7 e P/VP de 2,26. Apresenta
dividend yield de 1,33% e ROE de apenas 4,55%, mostrando que o mercado está
pagando muito por um baixo retorno. Em termos de fundamentos, para longo prazo,
não seria a melhor escolha para investir nesse setor. Em termos de preços,
variou entre 11 e 29 reais. Encontra-se no patamar de 20. Para trade, mostra
boa volatilidade. Em termos de precificação, está muito cara e há espaço para
correções.
De forma sucinta,
mencionamos as 4 principais empresas listadas que atuam na área de educação.
Esse setor não atravessa o melhor momento em bolsa e o cenário com o novo
governo inspira cuidados, diante dos prováveis cortes dos recursos do FIES. Os
grupos maiores tenderão a ter mais capacidade para se adequar, investindo e
expandindo os nichos mais lucrativos, como EAD, por exemplo. Financiamentos
próprios minimizarão a perda de captação via FIES. Como sempre, os mais fortes
sobreviverão. Acredito na capacidade da Kroton e da Estácio em continuar
proporcionando bons lucros aos acionistas. A questão a se decidir é o momento
certo para comprar. A Kroton, por estar mais descontada, parece a melhor opção.
A Estácio, com o melhor lucro por ação e melhor dividend yield, mostra melhor
retorno, mas já não se encontra com margem de segurança. Em termos de trade, a
Ser tem a maior volatilidade para curto prazo. A Anima, no valuation atual, não parece ser a escolha nem
para trades curtos.
Enfim, esse foi o
panorama geral do Setor de Educação. Lembrando que a menção às empresas acima,
não representam recomendação de compra nem de venda. Cabe a cada investidor
decidir, de acordo com sua própria análise. Esse foi apenas um ponto de vista,
para subsidiar o conhecimento.
Por ter tudo a ver
com o setor analisado, vamos estudar?
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