A CPI em andamento no Congresso parecia que poderia ser ignorada pelo mercado para sempre. E até então era o que estava ocorrendo. O mercado vinha ignorando qualquer coisa que não fosse positiva.

Na ponta pró-mercado, está a privatização da Eletrobrás, já consubstanciada na Medida Provisória aprovada e pendente de sanção presidencial. 

A reforma tributária também foi apresentada com um certo atraso, mas agradou o mercado em parte. Parcialmente, por que no bojo dela vem a tributação de dividendos e rendimentos de Fundos Imobiliários, o que desagradou o mercado nesse ponto, que usará de sua força e influência junto à opinião pública para tentar a não aprovação dessa medida.

O IBOV sentiu o golpe e caiu para 127 mil pontos com essas notícias recentes.

Mas o que já está na pauta atual da imprensa e dos meios de comunicação são as notícias sobre corrupção na compra da vacina indiana (Covaxin), possivelmente superfaturada. Os desdobramentos disso podem finalmente culminar em um processo de impeachment. Há indícios de irregularidades e até de crimes cometidos. 

A bolsa, por enquanto, continua a ignorar os fatos negativos e se concentra nos itens que lhe interessa. Um processo de impeachment no momento deve afetar qualquer votação no Congresso, inclusive as tão sonhadas reformas que tanto o mercado pede.

E qual seria o cenário em um governo do vice Mourão? Haveria alguma guinada em direção ao nacionalismo, já que ele é militar? A pauta continuaria liberal ou haveria uma mudança no Ministério da Economia? O Paulo Guedes continuaria? As reformas seriam prioridade no novo governo? E mesmo que fosse, haveria tempo hábil para aprovar e implementar qualquer medida significativa, uma vez que ao final de um processo de impeachment, restariam poucos meses para chegar ao ano eleitoral? Haveria eleição? (o autogolpismo continuaria como uma possibilidade?)

A simples dúvida sobre quaisquer dessas questões seria suficiente para barrar a escalada da bolsa e, quiçá, não seria um estopim para uma forte correção nos diversos ativos, muitos deles exageradamente precificados por conta de um otimismo ufanista.

Sem dúvida, questões que o investidor não pode ignorar e não só isso, precisa até antever os próximos movimentos para melhor se posicionar, ou desmontar posições que seriam impactadas com a concretização dessas questões.

Investir em prefixados nesse momento não parece a melhor alternativa. As taxas tenderão a subir, tanto pela inflação crescente e persistente, como pelo fato de fatores dessa natureza tenderem a minar a credibilidade do governo, com reflexo nos juros futuros (investidores exigirão taxas maiores para financiar a dívida pública, diante de turbulências e incertezas). Juros maiores, títulos em queda, por isso que não é o momento para comprá-los. O dólar, que perdeu recentemente a barreira psicológica dos 5 reais, pode ser uma boa forma de fazer um seguro. A bolsa certamente cairá. O quanto é que não sabemos.

A prudência manda precificar com rigor os piores cenários. Os melhores, caso precificados, que sejam comedidos. Otimismo exagerado já quebrou muita gente na bolsa.