O principal índice da bolsa brasileira superou os 120 mil pontos novamente, patamar atingido antes em janeiro desse ano.

Esse nível de preços está há menos de 3% da máxima histórica atingida em 08/01/2021.

A mínima de 67 mil pontos, que foi atingida em março do ano passado, no pior da pandemia até então, foi sendo deixada para trás graças a promessas de reabertura gradual da economia, recuperação das vendas, do emprego, enfim, uma normalização da atividade econômica.

E o que ocorreu desde o fim do ano passado? Uma segunda onda ainda mais forte do que a primeira, com recorde de novos casos e de óbitos em todo o país, a despeito das promessas de vacinação ampla para toda a população, que até agora não se confirmaram e não tem data para serem cumpridas. Novas cepas mais letais são o resultado dessa recidiva. Portanto, a pandemia e suas consequências são um risco que está distante de ser afastado, no que se refere aos impactos econômicos nas empresas e nas famílias, com reflexo no apreçamento dos ativos. Mas a bolsa vive em uma "bolha" e ignora todo esse cenário ruim e que tende a piorar. A palavra "bolha" aqui empregada não se refere tão somente aos preços descolados do seu fundamento, que a meu ver está de fato configurado, mas uma espécie de autismo dos investidores em não enxergarem problemas que vão de encontro a suas convicções. Estamos falando do famoso viés de confirmação, tão propalado pela psicologia comportamental.

O segundo risco solenemente ignorado pelo mercado decorre do primeiro. A crise política, pela inação do governo em buscar soluções para minimizar os problemas da pandemia. O vai e vem de ministros ineptos, principalmente no Ministério da Saúde, combinado com as bravatas do Ministério da Economia, para continuar a defender um discurso liberal destinado a um público bem específico e que sustenta o governo atual. Mas que nem eles acreditam mais.

A crise política culminou com a abertura de CPI no Congresso para investigar os erros, omissões e comissões no trato da pandemia, da vacinação e da gestão dessa crise sanitária que não é só um problema brasileiro, mas que foi amplificada nessas terras tupiniquins. E pasmem! A bolsa subiu justamente nessa semana que o fato foi consumado. As consequências dessa investigação são imprevisíveis, mas certamente farão estrago na imagem do governo atual, já bastante desgastada, pois os fatos existem e serão expostos para fora da "bolha" que foi criada em torno do presidente e dos que o apoiam e dão sustentação.  

Nos EUA, onde as bolsas também não param de subir, pelo menos foram implementados diversos estímulos econômicos, o que justificaria pelo menos em curto prazo a alta na bolsa. Se é sustentável ou não é outra história, e acho até que não é. Mas aqui? O auxílio emergencial foi pífio e a prazo certo e não fez nenhum efeito nas vendas do varejo, pois o pouco não tem dado nem para a população ter o mínimo na sua mesa. A fome e a desesperança voltaram com força, mas as ações não estão nem aí para isso! Sobem como se não houvesse amanhã. É ai que mora o perigo!

Como se não bastasse, o virtual adversário do atual presidente na suas pretensões à reeleição, está vivo e elegível, para consolidar o antagonismo direita-esquerda que tem caracterizado as eleições presidenciais desde 1994. Não, o "radicalismo" não começou agora. Na verdade, é parte da nossa história política, desde a redemocratização. Há quem ache que a volta do PT ao poder seja um risco político maior do que o que atualmente vivenciamos, mas nem acredito muito nisso. É só revisitar os números da época e verificar que a bolsa subiu forte naquele período.

Resumindo, os riscos já estão no horizonte mas não fizeram preço, talvez por causa dos juros artificialmente baixos, o que impede os investidores de migrarem de volta para a renda fixa. Mas é uma questão de tempo, pois os juros começaram a voltar para seu patamar real. O Brasil não comporta juros reais negativos e a inflação oficial acumulada de 12 meses já passa de 6%. O investidor brasileiro é meio refém dessa história e não tiraria o dinheiro da bolsa para voltar para títulos e fundos que perdem para a inflação. Mas o estrangeiro não virá se não tiver um plus sobre alternativa mais segura. Na próxima reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária), já estão contratados mais 0,75% de aumento da taxa, levando-a de volta a 4%. A esses níveis já veremos muitos desistirem da bolsa em busca de rentabilidade mais segura e garantida. O resultado é o índice corrigir proporcionalmente ou até em ritmo maior, quando combinados todos os fatores citados nesse artigo.