Em post anterior nesse blog, "A Petrobrás não Deveria ter Ações na Bolsa", mencionei o fato de que a política de preços da empresa seria insustentável pelo caráter estratégico que é o preço dos combustíveis no Brasil. 

Reconheci que o acionista teria direito a maximização do lucro, mas que no caso da Petrobrás, outros interesses estão em jogo, além do retorno financeiro. E que o acionista teria que ter esse conhecimento antes de decidir aplicar em ações da empresa. 

Ao final do artigo, registro algumas medidas que poderiam ser tomadas, em termos de compensação ao acionista, para que o Governo pudesse intervir e controlar o preço interno dos derivados, uma vez que a atual política é danosa para a inflação, para os juros futuros e, consequentemente, para o desempenho da economia e, em última instância, para a bolsa.

Essa semana, o Bolsonaro decidiu trocar o presidente da empresa por entender que algo precisa ser feito na questão da precificação do combustível. 

Não sei se o objetivo é apenas jogar para sua plateia (cada vez menor), ou se de fato vai efetuar uma mudança realmente sustentável para a precificação interna do combustível. O cenário atual de subida do preço internacional do barril de petróleo e também da desvalorização do real, dois fatores que multiplicados fazem o preço interno disparar, sob as regras da política de alinhamento desde o governo Temer, foi a tempestade perfeita para provocar uma intervenção.

E vamos registrar, se o acionista majoritário não puder intervir em uma empresa na qual detém o controle, não deveria detê-lo. Mas duvido que a iniciativa privada queira comprar a Petrobrás, se não tiver em lei uma garantia de reajustes frequentes de preços. Querem o controle da inflação, a desindexação da economia, mas querem garantido um índice para os preços que eles praticam, em detrimento dos consumidores brasileiros. Esse é o comportamento dos supostos liberais tupiniquins.

Se lerem o que escrevo nesse blog, dá pra perceber que não me alinho com a extrema direita na qual esse governo se identifica. E sou crítico de muita coisa que decidem, mas a intervenção atual, se feita da forma correta, não é só necessária como é vital para que preservem a estabilidade monetária e a saúde da economia. 

Como podem querer inflação e juros baixos, se o principal insumo de toda a cadeia produtiva está indexado a uma moeda estrangeira? Todos os nós dessa cadeia vão querer embutir e repassar aos preços esse custo crescente. E aí a economia indexada que o plano real combateu volta com força, junto com a hiperinflação dos anos 80.

Governo que age olhando apenas para a bolsa, certamente não estará atendendo aos interesses da maioria dos brasileiros. Quem achar que estatal não tem outros objetivos além do lucro, que não invista em empresas que têm a participação governamental. Por isso que no post anterior, falei que a Petrobrás não deveria ter ações na bolsa. E empresas de serviços públicos como as do setor de saneamento básico, águas e esgotos etc. Quem aportar capital nelas, saibam desde já que há outros objetivos, como universalização de serviços para toda a população a um preço competitivo, e que não visem somente altas margens.

Água, combustível, energia são itens essenciais na vida de todo brasileiro. Esses bens não podem estar ao sabor e ao vento de uma entidade despersonalizada chamada "mercado", que não tem nenhuma sensibilidade e só visa o lucro e a acumulação. E se esse lucro vier em detrimento de todos, ele não é legítimo e deve ter alguma forma de regulamentação. As estatais existem para servir a todos os brasileiros e se não for assim, não deveriam existir. Mas elas precisam existir. Pois têm valores que o Estado precisa proteger que são maiores do que o vil metal.

Esse post não é um libelo a favor da intervenção estatal pura e simplesmente. Mas é uma opinião sobre algo que grita aos ouvidos de todo brasileiro: a política de preços da Petrobrás precisa mudar. Junto a essa mudança, poderão vir alterações na tributação sobre esse item básico da economia, a começar pelo ICMS. Mas sabemos que o problema não é só a carga tributária. Há outros fatores que precisam ser combatidos e aceitar a discussão já é um meio caminho andado.

        Espero que essa discussão tenha realmente começado.