O desempenho do Ibovespa tem sido extraordinário. Desde o fundo de março/2020, o principal índice da bolsa brasileira já ultrapassou a sua marca histórica e ruma aos 130 mil pontos.


Como a velha máxima registra, a subida é na expectativa, a descida é na realização do fato. O que a bolsa está precificando é o sucesso da vacina em imunizar a população e afastar qualquer risco associado à pandemia. E isso se refletir na economia, na recuperação das vendas, principalmente daqueles setores que mais tiveram impacto, como os de serviços voltados para o turismo, restaurantes, lanchonetes, cinemas, enfim, o setor mais penalizado da bolsa desde os lockdowns. 


Mas será que isso ocorrerá? Há uma disputa política associada à compra da vacina e à sua aplicação. O governador de São Paulo está nessa briga para ver quem levará os méritos de ter iniciado a vacinação. O governo federal, de olho na eleição e na popularidade, já entrou nessa disputa pra ver quem será o pai da criança. Nessa guerra não há vencedor, se não houver um senso de urgência para resolver essa situação. 


Se olharmos com detalhes, o Ibovespa não reflete de forma perfeita o mercado de ações brasileiro. Devido à concentração em bancos e empresas de commodities, o desempenho das ações desses setores acabam definindo o movimento do índice. E é o que vem ocorrendo recentemente. Além dos bancões, como BBAS3, BBDC4, ITUB4, SANB11, a performance de VALE3, PETR4, GGBR4, GOAU4, CSNA3 etc tem sustentado esse rali do Ibovespa.


As ações dos setores vinculados ao varejo tem tido um desempenho bem aquém dos demais. O mercado já vem precificando o fim do auxílio emergencial, que já afetam as vendas, principalmente em cidades pequenas e médias e em pequenos negócios nas grandes cidades. Ativos como VVAR3, MGLU3, AMAR3, CEAB3, LAME4, LJQQ3, etc , estão distantes das suas máximas históricas atingidas em novembro e dezembro do ano passado. Essas podem abrir oportunidade de entrada, se as condições que tem provocado essa queda não se confirmar. E que condições seriam essas?


A principal já citada, com referência ao auxílio emergencial, é a mais importante. Em fevereiro/2021, haverá a eleição para a presidência das duas casas legislativas. E o retorno do auxílio emergencial pode ser uma moeda de troca dos partidos de esquerda para votar no candidato que se comprometer com essa pauta. Se isso ocorrer, os ativos do setor de varejo irão proporcionar um bom ganho para quem se posicionar agora.


O segundo fator seria o sucesso da vacina, combinado com medidas para acelerar a sua aplicação e disponibilidade para a maioria da população em um curto espaço de tempo. Esse segundo fato beneficiaria principalmente os setores vinculados ao turismo, viagens, restaurantes, etc. Empresas como CVCB3, GOLL3, AZUL4, SMLS3, MEAL3, BKBR3 etc. Afastaria definitivamente os riscos de um segundo lockdown como está ocorrendo na Europa. Esse upside ainda não estaria precificado, embora os preços dos ativos já reflitam um pouco essa expectativa.


A concretização desses dois fatores poderiam levar o Ibovespa à inédita marca de 150 mil pontos. Tudo isso regado a muita liquidez decorrente dos estímulos monetários dos países desenvolvidos. E juros reais negativos em todo o planeta, inclusive aqui. Isso se a inflação não voltar com força para por água no chopp dos investidores.


O que precisaria acontecer para esse cenário de céu de brigadeiro?


1) Volta do auxílio emergencial;

2) Vacinação em massa até o final do primeiro semestre;

3) Resultado das empresas melhor do que o esperado no 1º trimestre de 2021, impulsionado pelos estímulos do auxílio emergencial;

4) Continuidade de ingresso de capital estrangeiro na bolsa brasileira, catapultando o índice para patamares ainda não alcançados. Dessa vez se espraiando por small caps, e indo além das blue chips.

E o que traria uma grande correção?


1) Não aprovação do auxílio emergencial, aumento do desemprego e crise econômica agravada pela falta de perspectiva;

2) Fracasso na compra de vacinas e atraso no cronograma de imunização em 2021;

3) Crise política agravada com a eleição dos presidentes das Casas Legislativas em oposição forte ao governo, com risco de aprovação de pautas-bomba e agravamento do quadro fiscal;

4) Inflação persistente, obrigando o Banco Central a subir os juros para conter o surto inflacionário.


As premissas acima foram apenas exercício especulativo sobre algumas possibilidades não tão distantes assim. Como o futuro é opaco, muitas outras variáveis estão fora do radar e nem sabemos que não sabemos (unknown unknowns). Para você, o que é mais provável, 150 mil pontos ou uma grande correção?


Façam suas apostas!