As eleições americanas se aproximam e o mercado gosta de certezas. Enquanto houver dúvidas quanto ao vencedor, a volatilidade irá aumentar, como de fato já vem ocorrendo atualmente.

Pelas pesquisas divulgadas o Biden é o franco favorito. É o candidato do Partido Democrata, uma posição mais à esquerda na política americana, se é que isso tem algum sentido quando falamos de Estados Unidos. No fim das contas, a diferença entre os candidatos acaba não sendo tão acentuada assim. No entanto, o mercado parece querer a vitória de Trump, talvez por ser mais previsível, uma vez que já está no governo há quatro anos.

Na hipótese de vitória confirmada de Biden, o mercado acionário deve cair e isso deve levar as bolsas mundiais a um comportamento parecido. Mas acredito que isso não seja definitivo, assim como não foi quando o Trump ganhou e todos esperavam a vitória da Hilary Clinton. Portanto, tomar qualquer decisão com base nesse fato, fará o investidor perder dinheiro, quando o melhor é não fazer nada agora.

No Brasil, além das ações, teremos um efeito negativo no câmbio também. Mas outros fatores estão influenciando esse cenário de incertezas e correções. E o principal é a segunda onda do coronavírus. Na Europa, a França e agora o Reino Unido, já tomaram decisões de retomar o lockdown. Aqui no Brasil, diante do desgaste que é um novo fechamento, com as consequências econômicas no emprego, na atividade econômica, haverá muita resistência para uma decisão dessas. E a diferença de posição entre o governo federal e os estaduais é que ditará o rumo desses acontecimentos. Caso a decisão seja por novo fechamento, a bolsa deve atingir os níveis do primeiro, com uma agravante: o doente ainda não se recuperou do primeiro tratamento; o segundo pode matá-lo.

No caso de um fechamento sem prazo, haveria necessidade de prorrogação do auxílio emergencial e é do conhecimento de todos a situação fiscal do Brasil e a dificuldade que isso seria no endividamento crescente. Certamente o mercado exigiria um prêmio de juros para aceitar novos títulos públicos. Isso já está ocorrendo. O Banco Central manteve os juros em 2% ao ano na última reunião, mas será muito difícil manter esses níveis se quiser rolar a dívida que vence nos próximos meses. 

Para quem conhece o Tesouro Direto e acompanha as taxas do Tesouro Prefixado, já percebeu que o título com vencimento em 2026 está pagando por volta de 7,50% de juros, patamar só menor do que o pico de 9% no auge da pandemia em março/2020.  Essas taxas se estressarão nos próximos dias, diante dos fatos citados. Se entender que não são definitivos os motivos que provocam esse aumento, há oportunidades nos prefixados, pois se a taxa de médio prazo (2026) vier a cair novamente, os títulos se valorizarão e o ganho será maior do que o contratado.

Olhando para o passado, vemos que muitos fatos que pareciam algo que levaria o mercado a outros patamares mais baixos revelaram-se passageiros. Podemos citar a eleição de Trump, a greve dos caminhoneiros, o Joesley Day, o brexit. Em retrospectiva, quem permaneceu com as ações por um prazo pequeno a médio, recuperou todas as perdas e transformou prejuízo em lucro muito rapidamente. Dizem que a bolsa é onde se transfere o dinheiro dos pacientes para os impacientes. Isso é verdade em quase todos os casos. Desde que as empresas escolhidas tenham solidez e atravessem as crises até feridas, mas não mortas.

Resumidamente, o ideal em tempos de incerteza seria ter bastante caixa para aproveitar essas oportunidades e comprar essas boas empresas por valores bem mais baixos. Mas se já estiver posicionado e a queda nas ações já estiver se iniciado, melhor não fazer nada e esperar a tempestade passar.