Quando montamos uma carteira de ações, devemos pensar em uma forma de torná-la um pouco mais segura. E essa segurança seria na hipótese de acontecer eventos extraordinários como uma crise financeira inesperada, uma pandemia como estamos atravessando, ou outro fator, como o impeachment de um presidente, com reflexos normalmente em quase todos os ativos.

 

Esse seguro seria um aporte em um ativo que teria uma correlação negativa com a bolsa e andaria em sentido contrário. Os exemplos mais clássicos desse tipo de ativo são o dólar, o ouro, opções de venda de ações ou índices, etc.

 

Mas eles de fato funcionam, no sentido de neutralizar ou pelo menos minimizar perdas no seu portfólio? Vamos falar dos 3 exemplos citados acima e analisar o real potencial deles em segurar uma carteira de ativos de renda variável.

 

Vamos começar com o dólar. Muitos fatores podem influenciar no câmbio e não somente uma crise ou algum fato negativo para o país. A causa da desvalorização do real frente ao dólar é explicada pelo nível de taxa de juros adotada pelo Banco Central. O patamar inédito da SELIC em 2% tirou a atratividade para o capital estrangeiro investir em títulos brasileiros. O diferencial de juros era o principal motivo da entrada de dólares no país e isso certamente é a causa principal. O dólar hoje oscila entre R$ 5,40 e 5,75, valores só maiores do que o pico de R$ 5,95 atingido em maio/2020. É claro que se algum fator fora da curva surgir, o câmbio deve romper essa resistência e alçar valores maiores. Mas não é mais um seguro barato para se proteger. E quanto mais caro pagar por esse seguro, mais dinheiro terá que aportar para que essa modalidade de seguro compense eventuais perdas potenciais na carteira.

 

O ouro também tem atingido valores recordes no curto e médio prazo e quem não se posicionou antes dessa valorização recente, também não tem nele muita margem para se proteger em caso de algo relevante a acontecer no cenário. O ouro não tem yield, não rende nada em carregá-lo por um longo período. Ele não é remunerado por juros, por dividendo ou qualquer outro provento. O único ganho possível é sua valorização (ganho de capital). Se estagnar por muito tempo, o custo de oportunidade pode ser significativo. Há também o spread entre a compra e a venda. Ele precisa subir um pouco para que você consiga sair com o mesmo valor. E normalmente esse spread não é tão irrelevante assim.

 

O terceiro exemplo citado são as opções de venda. Devido ao baixo desenvolvimento desse mercado no Brasil, somente as opções de "blue chips", como Vale, Petrobrás e Bancos, têm liquidez suficiente para se operar com esses derivativos. O ideal seria comprar opções de prazo longo, longe do dinheiro e a valores irrisórios. Esse sonho não existe. As opções normalmente são caras, você não encontra com prazos longos e os valores são significativos. Lembrando que elas vencem e precisam ser substituídas, enquanto sua carteira estiver ativa. Ao longo do tempo, esse custo pode ser muito relevante (eu diria proibitivo).

 

Diante da impossibilidade real de um bom seguro para a carteira, a um custo razoável, a partir dos 3 exemplos citados acima, o que fazer para minimizar os riscos de investir em renda variável?

 

O que pode ser aprimorado é escolher um bom momento para comprar, naquelas situações em que o mercado (ou um ativo em particular) esteja em queda de forma exagerada por um fato negativo talvez, como um mal resultado trimestral ou algum fato relevante que, embora afete a empresa no curto prazo, não abalará seus fundamentos a médio e longo prazo. E evidente que a compra será de empresas boas, que você já previamente analisou e pôs no radar para oportunidades de entrada. Empresa boa é aquela com múltiplos descontados, com boa rentabilidade, baixo endividamento, lucros crescentes ou pelo menos estáveis, boa governança. Algumas dessas premissas até podem ser relativizadas, mas não todas elas.

 

Outra forma, essa muito eficiente, é a diversificação. Uma carteira composta por cerca de 15 ativos, de setores variados, mesmo que todos sejam de empresas brasileiras, mas que abarquem um amplo espectro de atuação nos vários segmentos da economia, performará bem, mesmo que em alguns momentos do mercado, venham a sofrer momentaneamente.

 

E claro, não aportar todo o capital em renda variável (no máximo 30 a 40%, a depender do seu perfil. Essa outra diversificação, em sentido mais amplo, em várias classes de ativos, como fundos imobiliários, fundos multimercado, ações e até criptomoedas, sem deixar de manter em caixa a reserva de emergência clássica que todos devem ter para eventualidades.