A bolsa de valores brasileira vinha atravessando um momento de lateralização, oscilando entre 97 e 103 mil pontos. O principal índice da B3, o IBOV, depois de ultrapassar os 105 mil pontos, após o susto da pandemia, voltou a operar abaixo dos 100 mil de forma consistente e parece flertar com uma tendência de baixa até, no mínimo, os suportes na casa dos 90 mil.

A bolsa vinha precificando uma retomada da economia, após a queda vertiginosa da atividade durante a pandemia. E de fato, a reabertura tem sido gradual em vários setores e a princípio parece tudo ir voltando aos poucos ao normal. Cuidado com as aparências.

O auxílio emergencial que vem sustentando a tal retomada, uma hora será interrompido ou diminuído, com reflexo no varejo, especialmente de alimentos e também na popularidade do presidente, que cresceu amparada por esse fator.

Mas ainda há muitos riscos no horizonte, não só interna, com externamente. Aliás, sempre há nuvens negras no horizonte. Isso é uma constante na política e na economia. Elas até podem passar, mas são uma presença frequente. O investidor já deveria estar acostumado com isso. Mas nunca estamos, não é verdade? Ainda no que se refere à pandemia, a tão esperada vacina que imunizaria a população ainda não é uma realidade.

O governo está sempre na berlinda em algum assunto. No momento parece ser a questão ambiental e a destruição da Amazônia. A consequência econômica é que pode haver boicote dos países importadores, com destaque para os europeus, em decorrência da pressão dos consumidores desses países em não consumir produtos brasileiros, diante da péssima imagem do país no exterior nesse quesito.

No front externo, a eleição americana se aproxima e ainda há indefinição de quem ganhará. O Trump, embora seja imprevisível como sempre foi, o sistema já o conhece e sabe que é favorável à continuidade de estímulos e defensor de continuidade da política de juros baixos. E o mercado adora um estímulo, mesmo que não seja sustentável.

Para a bolsa, não deve haver surpresas, caso ele seja reeleito. A fonte de incerteza deve vir do lado democrático, com o Biden, pois certamente adotará uma postura mais à esquerda, de aumento dos gastos, políticas sociais e possivelmente mais inflação e juros mais altos. 

Numa análise mais setorial, no que se refere ao IBOV, o setor bancário vem performando muito mal, e diante do seu peso no índice, tem definido a direção do principal índice. O ITUB4 já se aproxima de sua mínima de março, quando atingiu valores próximos a 20. BBDC4 e SANB11 também caem rumo a suportes de maio/2020. Uma olhada pelos vários setores, a performance negativa parece ser a regra. 

O que tinha sustentado o IBOV em níveis altos eram os juros muitos baixos, provocando uma migração para a renda variável. Mas a inflação começa a surgir com mais força, principalmente nos itens de alimentação. E o mercado já está precificando altas futuras da taxa para conter essa força. Isso ocorrendo, certamente a bolsa responderá negativamente.

Pontualmente, pode ser possível comprar bons ativos a preços melhores e podem ser alvos para quem é adepto de compras graduais, uma vez que já corrigiram bastante e detém bons fundamentos. Mas caso a hipótese de aumento dos juros se concretizar, nenhum deles terá atingido o fundo, pois todos os preços relativos do mercado serão reajustados a essa nova realidade. O que está barato pode ficar mais ainda nesse novo cenário que se avizinha.