O mercado brasileiro teve um desempenho muito bom nas últimas semanas. Depois de atingir 93 mil pontos no início de novembro, fechou ontem, 20/11/2020, aos 106 mil. 


Vários ativos, principalmente os que tem maior peso no IBOV, como o setor bancário, Petrobrás e Vale performaram muito bem e recuperaram boa parte das perdas desde o início da pandemia, em março/2020.


Olhando em detalhes, verificamos que ainda há ativos que o mercado vinha penalizando e batendo há muito tempo, cada um por seus próprios motivos e que ainda não acompanharam essa pernada de alta e esse possível rali de final de ano.


Que ativos seriam esses e por que eles ainda não foram? Vou exemplificar alguns: COGN3, CIEL3, IRBR3, EMBR3, e comentar sobre elas abaixo.


COGN3


A Cogna apresentou resultados muito negativos, principalmente devido ao efeito da pandemia sobre as aulas presenciais de graduação, concentrada na unidade Kroton. Nessa unidade em específico a queda na Receita Líquida foi de -27% e do EBITDA, impressionantes -73%. Ela está em um processo de transformação dessa modalidade presencial para o Ensino à Distância (EAD), para se adaptar a essa nova realidade. Se for bem sucedida, tem potencial para recuperar boa parte das perdas ocorridas no último ano. 


Abaixo quadro extraído do último Release de Resultado do 3º trimestre:


Os números de fato não são animadores. A Receita Líquida caiu -16,5% nos primeiros nove meses de 2020 em relação a igual período de 2019. O efeito sobre o EBITDA recorrente é ainda pior: -57,3%. Reverteu um lucro ajustado de R$ 720 milhões de 2019 para um prejuízo de - R$ 256 milhões no corrente exercício. Isso refletiu negativamente nas margens EBITDA e margem líquida. Houve também reconhecimento de perdas no valor recuperável de ativos (impairment) na Saber e outros fatores que contribuíram para esse resultado. As outras unidades do grupo (Platos, Saber, Vasta) tiveram resultados melhores, mas o peso da Kroton definiu o resultado, pois representa mais de 64% da receita consolidada. Enfim, a Administração terá que dar uma guinada nesse transatlântico, que ameaça se chocar com um iceberg.


Graficamente, o ativo atingiu o fundo em 4,20 e já reverteu a tendência de baixa no gráfico diário e fechou na última sexta a R$ 5,12. Há resistências importantes à frente, mas alvo em R$ 7,50 é bem possível (topo de agosto/2020). Verifica-se que o volume ainda não é expressivo como aquele que provocou a queda no ativo em agosto, mas há alguns dias com volumes significativos na ponta compradora. Depende de fluxo para atingir o alvo esperado. Potencial até o topo em 7,50 é de 47%.


CIEL3


A Cielo deixou seus tempos de ouro para trás, quando foi quebrada a exclusividade nas maquininhas de cartão. Aqueles tempos bons não voltam mais, isso é um fato. Após o fim dessa vantagem competitiva, a empresa encontrou uma concorrência acirrada no seu campo de atuação, como a Getnet, a Pagseguro, a Stone, a SumUp, que ganharam marketshare e fizeram a Cielo comprimir as margens para não perder espaço. Isso se refletiu nos resultados e, consequentemente nas cotações do papel na bolsa. 

Ainda não vencida as guerras das maquininhas (em pleno andamento), veio a nova tecnologia do PIX criada pelo Banco Central e que deve ocupar também espaço dos cartões de crédito e de débito. A vida não está fácil para a Cielo. O último resultado divulgado, referente ao 3º trimestre, mostrou números ainda em queda em relação ao mesmo trimestre de 2019, mas melhoras na comparação com o trimestre anterior de 2020. A Receita Operacional líquida subiu 2,9% na comparação com 3º trim/2020, mas o EBITDA e o lucro caíram, respectivamente, -33,7% e -69,0%.

Quadro abaixo mostra um resumo desses números:


Em relação ao 2º trimestre de 2020, os números melhoram devido a reabertura gradual das lojas e shoppings e a retomada das atividades em vários setores após o lockdown. Há uma tendência de crescimento dos números para o 4º trimestre e para o ano que vem, se não houver uma segunda onda, que provoque novas medidas de fechamento. Perspectivas, portanto, melhores no curto e médio prazos.


No gráfico, há uma reversão clara da tendência de baixa para alta, cujo fundo foi registrado em 3,29 e ocorreu a formação de uma figura clássica de reversão, o OCOI (ombro-cabeça-ombro). Há um pivô de alta em formação no gráfico diário que levaria os preços a alvos em R$ 4,78; 5,07 e 5,60, a depender da força compradora. O volume está em linha com a média, mas não demonstrou força como ocorrida em agosto. Também precisa de um fluxo comprador e um mercado favorável para levar a esses níveis, se amparado pela pernada atual de alta e pelo rali do fim do ano.



IRBR3


O IRB passou por uma tempestade, quando os seus números foram postos em dúvida por um relatório da gestora Squadra. O mercado perdeu a confiança na empresa e na sua gestão, provocando mudanças na composição da Diretoria e no Conselho de Administração. O ativo chegou a perder mais de 85% do seu valor, desde a máxima de R$ 40,71 atingida em janeiro/2020. 


Confiança é algo que se conquista ao longo de muito tempo e que se perde muitas vezes com apenas um gesto ou um fato. A governança da empresa foi abalada e ainda não se recuperou totalmente. Feitas as mudanças urgentes e necessárias, a empresa foi ao mercado e captou recursos novos por meio de uma subscrição de ações e depois por meio de debêntures, uma demonstração de que o mercado deu novo voto de confiança à empresa e à sua nova gestão. Essa capitalização era necessária para reequilibrar o seu balanço e atender a exigências dos Órgãos Reguladores (SUSEP - falta de recursos garantidores de provisões técnicas).


O prejuízo nos nove primeiros meses de 2020 é muito significativo e mostra que a empresa tem muito trabalho pela frente para recuperar a confiança e as margens e rentabilidade perdida. Abaixo um resumo dos principais indicadores do 3º trimestre, na comparação com o mesmo do ano passado e com o segundo deste ano, bem como o acumulado até setembro/2020. Há uma melhora nos números em relação ao trimestre anterior, mas ainda mostra um prejuízo no 3º trim/2020 de -R$229,80 milhões, em comparação a -R$ 685,1 milhões no 2º trimestre.


Observando o gráfico diário, verifica-se que o ativo vinha lateralizado desde outubro e com um estreitamento em forma de um triângulo. Ensaia um rompimento dessa formação, cujo fundo foi em R$ 5,38 e a máxima seria em R$ 8,83. Topo de junho foi R$ 12,89, que seria alvo em caso de definição dessa tendência ao romper a figura triangular. Na sexta, dia 20/11/2020, o fechamento sugere esse movimento, amparado por um aumento no volume. Há espaço para o ativo se desenvolver e com um ponto muito importante de resistência no topo dessa formação. Vencida essa, o alvo é possível e até esperado.


EMBR3


Em 2019, a Embraer anunciou a assinatura de um acordo bilionário com a americana Boeing para formação de uma joint venture na área de aviação comercial. Esse fato foi bem recebido pelo mercado e o ativo reagiu bem, valorizando-se após a divulgação do fato. No corrente ano, devido às complicações da pandemia e os efeitos sobre o setor decorrentes do fechamento das fronteiras, restrições de viagens etc, a Boeing, alegando descumprimento de condições por parte da Embraer, desistiu do negócio com a empresa brasileira. A ação, que chegou a ser cotada próxima ao valor de R$ 25,00, caiu vertiginosamente em fevereiro e março desse ano, atingindo o fundo em R$ 5,90, após o anúncio da desistência da Boeing. Esse fundo foi recentemente repetido no final de outubro e início de novembro/2020. 

Mas o fim do acordo com a empresa americana não é o único fator que desencadeou a performance negativa da ação. 

A Receita líquida, na comparação trimestral, cai em relação ao mesmo período do ano passado e cresce em relação ao último trimestre. O EBITDA sai de R$ 1,15 bilhão negativo no 2º trimestre/2020 para R$ 75 milhões positivos, demonstrando uma retomada em direção a resultados melhores. Chama a atenção o aumento da dívida líquida, de R$ 5,6 bilhões no 3º trimestre de 2019 para R$ 13,34 bilhões no 3º trimestre do corrente ano. Esse fato pode ser explicado pela variação cambial no período, uma vez que os custos são dolarizados, compensados também com receitas dolarizadas. Importante ressaltar que 20% dos custos são denominados em reais, ao passo que 10% da Receita Líquida tem essa característica, um fator positivo. O resultado da companhia continua sendo impactado pela pandemia e pelos efeitos que isso causa nas viagens áreas comerciais, refletido na quantidade de aeronaves entregues no período atual em relação ao ano passado. Mas a empresa espera que esses números continuem melhorando, uma vez que o 4º trimestre apresenta sazonalmente nível maior de entregas e o resultado tende a vir mais robusto.


Graficamente, o ativo deixou seus piores momentos para trás, quando registrou fundo em R$ 5,95 no início de novembro. A tendência de baixa já foi revertida, algumas resistências já ficaram para trás e parece que há a formação de um padrão mastro-bandeira. Esse padrão é caracterizado por uma subida relevante, parada para descanso, com redução de volume e retomada da alta, replicando o mastro. O alvo dessa formação é em torno de R$ 10,70. O ganho em relação ao fechamento de sexta, dia 20/11/2020, é de 35%. 


Em resumo, citei 4 ativos que podem ter um desempenho acima do mercado, exatamente por que não acompanharam a puxada recente e o possível rali de final de ano. Claro que cada um deles tem seus próprios problemas a superar, como citado no texto acima. O que chamamos a atenção é para o fato de que há sempre ativos em que o mercado parece bater sem dó, não importam as condições gerais do cenário. E esses que mencionei têm essa característica, que podemos chamar de "memória vendedora". Mas todos eles demonstram reversão dessa tendência forte de baixa e guardam potencial que pode chegar a mais de 40% em alguns casos. O mercado subiu com consistência desde os 93 mil pontos e muitos ativos acompanharam. Os investidores procurarão aqueles que ainda não performaram bem, a continuar a toada do rali. 


DISCLAIMER: as menções acima não representam em absoluto recomendações de investimento e espero que interpretem apenas como a opinião do blog. Cada um deve realizar sua própria análise e convencimento sobre suas alocações. Cabe a cada um a responsabilidade pelas decisões de investimento e pelas consequências que isso pode causar para o patrimônio pessoal e da família. O blog recomenda veementemente que não operem por dicas de terceiros. Esses não costumam pôr a "pele em jogo". No meu caso, tenho alocações pessoais nos ativos citados por acreditar nas teses que defendi, mas é inteiramente uma decisão pessoal e assumo as implicações decorrentes. Bons investimentos.