A bolsa brasileira tem apresentado uma boa performance nas últimas semanas e desde 20 de maio vem numa trajetória de alta quase sem correção. Desde o fundo em 77 mil pontos em 18 de maio até o fechamento em 96,5 mil, ontem, 19 de junho, uma alta de mais de 25%.

 

Nesses níveis parece ter perdido força, mesmo com o corte de juros anunciado essa semana pelo COPOM. A maioria das ações subiu e pelo menos para o curto a médio prazo, não há muita assimetria a ser buscada, diante do fraco desempenho da economia e dos resultados ruins divulgados, devido à crise do coronavírus e suas consequências.

 

Como relatei no último post, "Renda Variável Compulsória?", não há muita opção de aplicar o capital com bom rendimento,  devido à pouca atratividade das diversas modalidades de investimento. Se quiser rentabilizar melhor, teremos que assumir riscos cada vez maiores, o que não é recomendado, e chegamos ao dilema de "onde aplicar".

 

Para quase todos os ativos, como falei, já não há opção de entrada com margem de segurança, sem que haja uma boa correção. E o mercado tem ignorado as notícias negativas e se mostrado muito resiliente. Então, quais escolhas poderíamos fazer, onde houvesse ainda algum upside a ser capturado?

 

Vou citar pelo menos 3 ativos, com os respectivos eventos que podem provocar uma valorização rápida, caso se concretize. São eles: OIBR3, CIEL3, EMBR3.

 

OIBR3 - A OI está em processo longo de recuperação judicial, que já dura mais de 3 anos. A previsão de término desse imbróglio seria fevereiro/2020, mas a empresa solicitou prorrogação, pois não está equacionada a questão de equilíbrio do seu caixa e sua estrutura de capital. Ela tem investido forte na fibra ótica e necessita vender ativos para diminuir a sua dívida e focar na principal geração de caixa da companhia. O principal ativo a ser vendido é a sua telefonia móvel, que tem despertado interesse da TIM e da VIVO, e cujo prazo final seria final de julho/2020. A empresa marcou assembleia para uma decisão importante. Montou um plano de aditamento à recuperação judicial, propondo a divisão em 4 unidades de negócio, sendo que 3 delas estariam à venda, permanecendo com a que engloba os investimentos em fibra ótica. Parece bastante plausível, desde que haja comprador para esses ativos e possa reequilibrar o seu caixa. O fator principal seria a aprovação desse plano em assembleia e também pela vara onde tramita o processo de RJ. A concretização disso, já seria um motivo para a ação subir bastante. E a cada confirmação de venda de uma dessas partes, impactaria positivamente essa ação.  

 

CIEL3 - é um dos ativos que mais tem sofrido na bolsa, mesmo antes da crise que ora atravessamos. Ela já vinha numa trajetória de queda desde 2018, na esteira da forte concorrência que enfrenta no setor, com empresas como PAGSEGURO, STONE, SUMUP e outras entrando pesado no seu terreno e oferecendo taxas mais competitivas para os lojistas, especialmente os pequenos. Para defender seu market share, ela teve que abrir mão de margens e o resultado é que o lucro vem decrescendo e também o dividendo distribuído. Esse cenário vem se refletindo no preço da ação. O ativo, que chegou a ser negociado acima de R$ 24,00 em janeiro/2018, atingiu a mínima R$ 3,23 nessa crise, uma queda de impressionantes -86,5%. Recentemente, foi divulgado em fato relevante, que a empresa fez parceria com o Facebook, para oferecer meios de pagamento no aplicativo de mensagem WhatsApp. Esse fato, combinado com um cenário de alta generalizada na bolsa, fez o ativo subir mais de 80% desde a sua mínima. O fechamento de ontem, 19 de junho, foi em R$ 5,63, alta de 74%. As dúvidas que ficaram é se a Cielo teria exclusividade no serviço ou se haveria facilidade na entrada de novos operadores. Também há perguntas sobre como seria a rentabilidade  e as margens dessas transações. É certo que há muito potencial de crescimento nesse segmento, diante do enorme público usuário do aplicativo e muitos não dispondo de cartão de crédito/débito. O quadro não parece estar totalmente precificado pelo mercado e há espaço para o ativo continuar subindo, à medida que novas informações forem divulgadas acerca desse assunto.

 

EMBR3 - a empresa não atravessa o seu melhor momento. O setor de aviação é um dos mais afetados pela crise, com riscos de quebras em empresas do setor, diante da queda forte na demanda por viagens e, no caso das brasileiras, também um aumento dos custos devido à desvalorização do câmbio. A Embraer, fornecedora de aeronaves, deverá ter seus guidances revistos para baixo, pois a demanda internacional por aviões certamente não será a mesma. E demorará a se recuperar. Outra ocorrência negativa foi a desistência da aquisição por parte da Boeing. Tudo isso pareceu a tempestade perfeita para a companhia, levando seus preços na casa de R$ 20,00 (20 de fevereiro) para a mínima de R$ 5,89, em 13 de maio. Uma deslizada de -70%. O fechamento de ontem a 8,79 recupera uma parte dessa perda, mas há uma longa ladeira para cima para voltar aos níveis anteriores. O fato que pode ajudar nessa trajetória é o surgimento de interessados em fazer negócios com ela, seja por meio de uma aquisição ou join venture, ou outra modalidade de parceria. Já surgiram rumores de que empresas chinesas teriam sido despertadas pela oportunidade aberta pela desistência da Boeing. Uma delas seria a fabricante chinesa COMAC. É um gatilho que, se for disparado, pode fazer o ativo dobrar de valor ou até mais em poucos dias.

 

Para reforçar o óbvio, as menções acima não representam indicações de investimento, pois não acredito e não invisto com base em dicas quentes e tenho certeza de que quem vier a ler esse post também não o fará. Cada investidor deve fazer sua análise independente e se convencer de que está fazendo um bom negócio ao escolher determinada empresa para aportar seu suado capital. Pessoalmente, entendo que as 3 empresas citadas acima, guardam potenciais a serem capturados pelos motivos citados. Claro que embutem riscos enormes, e por serem eventos binários, a não concretização desses cenários fará os ativos corrigirem forte e até, em última instância, e principalmente no caso da OI, a descontinuidade do negócio.