Ontem o COPOM - Comitê de Política Monetária cortou novamente a taxa SELIC para novo patamar mínimo histórico de 2,25% ao ano.

 

O impacto dessa decisão é que a renda fixa que já estava pouco atraente, em alguns casos vai render abaixo da inflação, como é o caso da velha poupança. O rendimento real será negativo, ou seja, ao optar por essa modalidade, o investidor perderá poder de compra. Parece haver aqui um interesse em empurrar os consumidores a gastarem, ao invés de poupar, para tentar pegar a economia no tranco, pois na chave já não está mais indo. A bateria arriou.

 

O Tesouro Direto também não fica muito atrás. O Tesouro Selic que acompanha a taxa deve empatar com a inflação ou um pouco mais e renderá menos de 0,20% ao mês. A dúvida é se a essa taxa o governo conseguirá rolar a dívida pública quando os títulos forem vencendo. O investidor estrangeiro sempre exige um prêmio de risco para investir aqui. Esse plus é somado à alternativa de aplicar em um país desenvolvido com baixo risco, como nos títulos do tesouro americano, por exemplo.

 

Já escrevi antes aqui no blog que parece haver um interesse para que todos migrem para a renda variável e nós sabemos o que isso pode causar. Em primeiro lugar, taxas de juros excessivamente baixas provocam uma busca por ativos de risco. Essa demanda pode gerar bolhas nos ativos, pois é a velha lei da oferta e da procura. Na B3 a quantidade de ativos à disposição ainda é pequena (oferta), mesmo que haja alguns poucos IPO (abertura de capital na bolsa). A consequência é que o dinheiro novo aportado irá para os mesmos ativos já existentes e fatalmente os preços vão subir. Isso já está ocorrendo, pois as notícias negativas não fazem mais preço. Outra evidência de que isso pode estar ocorrendo é que mesmo nessa crise o número de investidores migrando para a bolsa não para de subir.

 

Olhando para os fundamentos, os preços deveriam subir quando as condições da economia melhoram, refletindo em mais faturamento e lucro para as companhias. O impacto da crise em andamento nos empregos e na renda das famílias já está impactando o consumo, mesmo com a reabertura das lojas. Até mesmo aqueles que conseguiram manter seus empregos, pisam no freio diante das incertezas que ainda permanecem. Portanto, a conclusão é que as condições estão piorando e não o contrário.

 

Outro fator que tem segurado os preços dos ativos é a enxurrada de estímulos monetários nas principais economias do mundo. Muita liquidez em busca de melhores rendimentos e com a garantia de que, caso ocorra algum problema os bancos centrais estão prontos para agir. É proibido cair.

 

Migração continua
Ainda devido à crise, a distribuição de dividendos diminuiu bastante e muitas companhias suspenderam os proventos para esse ano. O investidor irá aportar em empresas que não pagarão nada ou muito pouco. A torcida é pela valorização para ganhos de capital, pois rendimento será zero. E esse "ganho de capital" potencial é sustentável ou parece mais um esquema Ponzi, que depende sempre de novos entrantes para manter a trajetória de alta? Uma hora a festa acaba e os últimos não terão o dinheiro de volta. Ou somente uma parte dele.

 

Estou afirmando que a bolsa vai cair? No curto prazo, talvez não, diante da nova realidade da renda fixa e dos estímulos constantes. Mas antevendo o que pode ocorrer com a economia, parece bem provável um retorno aos fundamentos, pois o dinheiro novo não brota do chão indefinidamente.

 

Tem bons ativos na bolsa ainda? Claro que sim, não sei se ao preço ideal para entrar. Devemos ficar totalmente de fora? Não estou afirmando isso, mas que a parcela em renda variável deva ser pequena nesse momento, é o mais recomendável.

 

E onde aplicar, se não ganharemos nada? Bem, não ganhar é melhor do que perder. Prefiro receber 2,25% do que perder 10%, 15% ou até mais. Essa é primeira máxima do investidor: não perder dinheiro!