Michel de Montaigne, filósofo e humanista francês, considerado o inventor do ensaio pessoal, considerava que o homem não tinha uma constância fixa. As ações humanas e seus comportamentos variavam de acordo com as circunstâncias presentes no momento da ação. E que a mesma pessoa pode agir diferente, dado que as circunstâncias mudam e nós também, dada a natureza fluida do nosso eu.

Extrapolando esse raciocínio para o nosso dia-a-dia, não faria sentido em revisar ideias e textos passados escritos por nós, porque éramos outra pessoa quando os escrevemos e o fizemos com base no nosso entendimento daquela época e com as informações então disponíveis.

Esse raciocínio vale muito quando tratamos do ambiente de investimentos. Não faz sentido nos culpar por decisões que tomamos no passado quando decidimos comprar uma ação ou aportar em um fundo, pois é fácil dizer que erramos olhando em retrospectiva. As informações conhecidas e as convicções formadas que nos fizeram tomar aquela decisão foram à época suficientes para nos convencermos de que estávamos certos. Hoje somos outra pessoa, a situação é outra e as decisões devem ser diferentes.

Trago esse pensamento acima para mostrar que decisões passadas que não deram bons frutos podem influenciar de forma negativa as próximas decisões, pois nossa psicologia comportamental nos afetará e nos impedirá de ser racionais nas próximas escolhas, se é que isso é possível.

Dentro dessa ótica, precisamos trabalhar o nosso racional para não nos culparmos por investimentos que não deram certo como gostaríamos. O futuro é mesmo opaco e aquele que disser que sabe o que ocorrerá amanhã é um charlatão. Claro que isso não impede que façamos as nossas análises e com base em dados então conhecidos nos posicionarmos em determinados ativos e esperarmos que caminhe de acordo com um resultado que projetamos previamente. Mas o componente sorte certamente estará muito presente nessas escolhas.

Melhor aceitar que erramos mesmo em certas escolhas e torcer para que os acertos sejam melhores e mais numerosos do que os fracassos. Senão a gente quebra.

É muito fácil achar que é gênio em um bull market como esse que estamos presenciando agora no Ibovespa. Num cenário positivo como o atual, todos os ativos sobem, mesmo aqueles que enfrentam problemas e tem números nada invejáveis. Torço para que você não tenha essa sorte de principiante, pois pode acreditar que achou a fórmula mágica para ganhar dinheiro no mercado de ações. Quero ver quando o inverno chegar, quem tem coragem de descer para brincar no parquinho. Desculpa se estou sendo um pouco duro e negativo. Mas não é essa a intenção. 

Infelizmente você é um investidor de sucesso com base no último trade que realizou e deu certo. Pois os fracassos nos afetam principalmente quando foram mais recentes e estão na memória. Se as últimas operações foram certeiras você vai esquecer que é falível e vai ficar mais suscetível a erros de escolha e de timing. Por isso que os bull markets são perigosos. Nos transformam em gênios (somente na nossa cabeça), pois continuamos sendo humanos, falíveis e que não sabem uma nesga do futuro.

Cuidem-se! Pois os bull markets não duram pra sempre e, consequentemente, nossa genialidade também não.