A bolsa tinha tudo para continuar a sua trajetória de alta e consolidar uma pernada de final de ano, mas  faltou combinar com os russos.

O principal risco e que já não está tão oculto assim foi a decisão do STF pela proibição de prisão em segunda instância. Com isso houve a soltura do ex-presidente Lula. Esse fator pode fazer a esquerda se reaglutinar e fazer frente à direita e sua agenda de reformas, que até a presente data vinha nadando de braçadas e praticamente sem adversários desde a eleição.

A política é como um pêndulo que oscila da direita para a esquerda e às vezes perde força no centro, quando essas forças se equilibram. Desde a eleição de Trump o movimento tinha sido fortemente impulsionado em direção à direita. A eleição de Bolsonaro no Brasil seguiu essa tendência. Antes na Argentina, a vitória de Macri também confirmava essa guinada à direita. No Chile, sempre à frente nessa tendência política mais pró-mercado e mais liberal, era exemplo a ser seguido na América Latina.

Mas quando o movimento é muito forte em um sentido, o retorno do pêndulo também vem de forma avassaladora. E está ocorrendo exatamente isso.

O exemplo mais marcante é o Chile, com a onda de protestos desencadeados por aumento nos preços do transporte. Mas a causa não foi essa, apenas o estopim. Houve um empobrecimento geral da população mais velha, devido a um regime previdenciário de capitalização implantado há algum tempo no país. Interessante que o Paulo Guedes, o Ministro da Fazenda atual, tem usado como exemplo e como objetivo a ser perseguido e aplicado aqui no Brasil. A reforma da previdência que foi aprovada não contemplou essa regra, mas ainda não desistiram. O mercado ainda não precificou uma onda de protestos no Brasil contra a reforma recém-aprovada ou os reflexos da PEC paralela em tramitação. Esse é um dos riscos ocultos. Esse fato, combinado com a libertação do principal líder da esquerda pode ter efeitos ainda não dimensionados.

Em seguida, tivemos a crise na Bolívia, com eleições questionadas, pressão sobre o Evo Morales, que acabou renunciando e fugindo para o México. Os protestos continuam e já registram muitas mortes em La Paz. A América Latina assemelha-se a um barril de pólvora prestes a explodir e já com o pavio aceso.

No Brasil, toda semana acontecem fatos marcantes e muitas vezes desestabilizadores. Os eventos se sucedem numa velocidade tão impressionante que não lembramos o da semana anterior. A invasão à embaixada da Venezuela por simpatizantes do autointitulado Guaidó parece ter sido a última. Tivemos reunião dos BRICS no Brasil concomitante a esse fato e foi ofuscada por outros mais relevantes.

O processo de impeachment do Trump caminha na Câmara dos Representantes. É provável que seja aprovado na Câmara para o Senado julgar. Na história americana já teve 3 casos de processos dessa natureza, mas nenhum deles foi consumado. O último foi o de Clinton, mas foi rejeitado pelo Senado. Sempre tem uma primeira vez e nessa ocasião pode ser diferente. Esse é um risco não precificado.

A guerra comercial entre os EUA x China continua como uma nuvem no horizonte que some e depois volta. Nada resolvido nem numa primeira fase. Esse tema ainda sobressaltará os investidores por muito tempo, até porque a guerra não é unicamente comercial, pois o embate é mais profundo. Trata-se de diferenças de visão de mundo sobre como conduzir a economia, a livre iniciativa, a intervenção estatal na economia, enfim tem caráter ideológico e geopolítico por poder e hegemonia mundial.

Diante de todo esse cenário, nós, pobres investidores, temos que continuar fazendo escolhas de investimento nesse panorama de incertezas e diante da queda abrupta dos rendimentos das aplicações mais seguras. Comprar riscos se tornou obrigatório, pois "Há Um Complô nos Empurrando para a Renda Variável".

Para permanecermos no jogo, precisaremos sair vivos do outro lado. Para isso existem os seguros. Melhor não atravessar sem eles.