Sempre enfatizo nos
meus artigos que você deve montar um sistema de investimentos com regras bem
claras, que facilite a escolha da ação, o preço de entrada e pelo menos dois
alvos, um para um cenário de alta forte e outro para o caso de o mercado
lateralizar ou perder força no movimento de alta. Sempre utilizando os gráficos
para identificar os suportes e resistências, estudo de volume, volatilidade e
outros indicadores auxiliares na montagem do trade. Normalmente, os alvos são
os topos mais frequentes e onde os vendedores se mostram mais presentes. O
mesmo ocorre com os pontos de entrada, quando o ativo costuma reverter, por ter
compradores naqueles pontos.
No cenário atual com
juros a 5% ao ano e com apostas para que chegue até 4% em 2020, a situação pode
mudar um pouco com relação a essas regras. O seu sistema sempre pode ser
melhorado e aprimorado, de acordo com a realidade.
E o que os juros tem
a ver com isso? Com taxas em queda, a renda fixa tornou-se pouco atraente e, em
alguns casos, em pouco tempo perderá para a inflação. É o caso da poupança, dos
CDBs, dos fundos DI e outras aplicações conservadoras. Ao deduzir o imposto de
renda de 20% em uma aplicação rendendo 4% brutos, o rendimento líquido ficaria
ao redor de 3,2%, com uma inflação pelo IPCA de 3,7%. Pronto, seu dinheiro
estará perdendo poder de compra e com juros reais negativos. Nominalmente você
"ganhou", mas na prática está pagando para o banco guardar o seu
dinheiro.
Nessa situação, os
investidores já perceberam que se quiserem ganhar algo terão que comprar risco.
Está ocorrendo neste momento uma forte migração da renda fixa para a renda
variável. Tanto é que o número de investidores pessoa física já ultrapassou 1,5
milhão na B3 (nossa bolsa). O saldo do investidor estrangeiro, que durante todo
o ano de 2019 estava na ponta vendedora, já se estabilizou e teve pequena
queda. Eles aos poucos estão comprando. O Ibovespa vem subindo de forma
consistente ao longo do ano, decorrente da migração da pessoa física e do
aumento de ações nos portfólios dos institucionais.
O seu sistema de
investimentos, que antes elegia os alvos de forma conservadora, naquelas
resistências mais próximas, pode se ajustar e aceitar que muitos topos
históricos serão rompidos e você poderá se beneficiar disso. É um aprimoramento
para uma nova realidade. Que pressa tem em realizar uma posição vencedora e em
franca tendência de alta, se ao vender o seu capital liberado terá pouca chance
de comprar algo ainda descontado? E caso não encontre essa ação para realocar,
onde porá o dinheiro com a renda fixa nas mínimas?
O momento é de
permanência nos ativos para se beneficiar dos ventos favoráveis e deixar que o
movimento de alta se desenvolva de acordo com a forte demanda por ativos de
risco.
Como o céu de
brigadeiro pode se transformar em um tempo fechado com nuvens carregadas, é
importante contrabalançar a sua posição em bolsa com ativos que tenham uma
correlação negativa com eles. Essa posição pode ser alocada em ouro, dólares ou
um fundo cambial, facilmente encontrado em várias plataformas de investimento
ou até no seu banco. Para quem entende de opções, esse hedge pode ser feito por
puts baratas fora do dinheiro. Esse último caso é um seguro um pouco caro, uma
vez que elas vencem e viram pó e você terá que sempre realocar em novas puts
com vencimentos mais longos.
A escolha mais fácil
pode ser mesmo o fundo cambial em dólar, mas o ideal é a aplicação em um
momento em que a cotação esteja abaixo de R$ 4 reais, que daria uma assimetria
mais favorável, uma vez que recentemente atingiu valores acima de R$ 4,20. Há
quem veja vantagem em se posicionar já agora. Fica a critério de cada um.
Tudo que escrevi
acima se adequa aos swing traders, cuja modalidade é a que opero e que tem dado
certo. Aos investidores de longo prazo, essencialmente fundamentalistas e buy
and holders, o racional de investimentos é outro e não faz sentido algum, pois eles
continuarão aportando naquelas ações escolhidas que ainda tem margem de
segurança e com lucros crescentes. Realizarão quando o lucro? Talvez quando
entenderem que o ativo já subiu demais e se descolou dos fundamentos, pelo
excesso de otimismo e pela forte demanda crescente e muitas vezes desarrazoada
pelos ativos da moda.
O investidor deve
ter essa sensibilidade, fazer a leitura do momento e entender que o sistema que
ele montou sempre precisará de ajuste fino de acordo com as circunstâncias.
Cada um com sua estratégia. Eu já escolhi a minha, e você?
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