Vamos direto ao ponto. Investir para o longo prazo não é comprar um ativo e guardá-lo para que no futuro (20 a 30 anos) à frente ele valha n vezes mais do que você aportou.

Entendo que investir para o longo prazo é o ato de ter consciência de guardar parte do que ganha para formação de patrimônio e construir a independência financeira. E não permanecer nos mesmos ativos sempre.

As condições econômicas mudam o tempo todo e os mesmos ativos não lhe darão ganhos por todo o tempo. Fatores como juros, inflação, crescimento do PIB, influenciarão determinados ativos para cima ou para baixo.

Vamos exemplificar os juros. Em um cenário de queda das taxas, em tese todos os ativos sobem, mas alguns se beneficiarão mais do que outros a depender do setor em que atuam. O setor de construção civil e varejo parecem ser os mais beneficiados. Os consumidores tenderão a financiar a compra de um bem como o imóvel, quando os juros estiverem em um patamar que permita se endividar para longo prazo. O setor de seguros, que costuma ter a sua reserva aplicada, parece perder um pouco da atratividade em um cenário de baixos juros. A seguradora recebe antecipadamente valores dos segurados, aplica-os, para um provável desembolso no futuro. Quanto maior a taxa de retorno desse investimento para ela melhor.

Outro exemplo, são aquelas empresas vinculadas às commodities. Como sabemos, há um ciclo bem claro para esse tipo de ativo. Investir nas empresas desse setor em um início de ciclo, pode ser bastante rentável; comprá-las ao final de um ciclo como em 2011 ou 2012, poderá causar grandes prejuízos.


O crescimento da economia mundial beneficiará as empresas exportadoras principalmente. No cenário atual, de queda do crescimento da China e riscos de recessão à frente na Europa e nos EUA, não é o melhor panorama para comprar exportadoras. Embora a valorização do dólar possa beneficiá-las, a queda da demanda externa por seus produtos afetará suas receitas.

Citei apenas alguns exemplos para reforçar o argumento de que comprar "boas empresas" e guardá-las para o longo prazo pode não ser a melhor estratégia. Aliás, o conceito de boa empresa é aquela bem administrada, com baixo endividamento, que apresenta crescimento nos lucros e remunera bem o acionista, que consegue bom retorno sobre o capital investido etc. Mas, independente das condições macroeconômicas essa empresa pode ser classificada como "boa empresa" em qualquer cenário?
Vários fatores, talvez os mais determinantes, são alheios às decisões que a Administração possa controlar.

Não seria uma estratégia mais acertada comprar as empresas quando elas atravessam o seu pior momento, com múltiplos bastante descontados, esperar as mudanças de condições que a favoreçam e vendê-las com lucro ao final desse ciclo?

Um dos argumentos utilizados pelos fundamentalistas é que as quedas do mercado são oportunidade de compra. E de fato são, mas como comprar se você não vendeu nada e seu capital está aplicado? A minha visão é que bull markets são oportunidades de realizar lucro e aguardar as quedas no mercado para recomprar as mesmas ações ou outras. Se você for do tipo "buy and hold" provavelmente não terá capital para aproveitar essas oportunidades.

Sei que é uma discussão polêmica, mas entendam como uma provocação para refletir.

É uma questão de perfil de cada investidor e eu respeito os "buy and holders". Mas não é assim que eu vejo as coisas.