O investidor deve estar atento ao cenário macro e micro no qual ele atua. Manter-se informado sobre a política, comércio internacional, eventos corporativos é obrigação de todo investidor. E no meio de todo esse ruído, saber filtrar o que é relevante do que é mera distração. É muita informação que chega ao nosso radar. A maioria pode ser ignorada, mas no meio de toda essa poluição, há sinais que precisam ser captados e processados e que podem influenciar nas suas escolhas e alocações.
Alguns drivers importantes certamente vão mexer com a volatilidade das ações nos próximos dias, sejam eles internos ou externos. Vamos a eles.

Internos:
  1. Reforma da Previdência: o 2º turno de votação no Senado está marcado para 02/10/2019. Tudo indica que será aprovada e em seguida promulgada a Emenda Constitucional que promete economia superior a R$ 800 bilhões em 10 anos. Caso se concretize, deve ser um fator positivo para ações até o final do ano, uma vez que isso ainda não está totalmente nos preços. Tanto é verdade que o adiamento por algumas semanas fez a bolsa perder os 100 mil pontos, depois recuperados gradualmente nos dias que se seguiram.

  1. Resultados Trimestrais: essa semana começa a temporada de balanços do 3º trimestre. Não se imagina resultados extraordinários devido à fraca recuperação da economia, mas alguns podem surpreender. E outros devem vir aquém do esperado, especialmente aqueles vinculados a exportações, commodities e que tenham relações comerciais com a China. Drive misto, mas com tendência a ser negativo para várias companhias. Para quem opera no curto prazo, normalmente abre ótimas oportunidades de compra.

  1. Disputas Políticas entre PSL x Bolsonaro: os ânimos se acirraram entre os integrantes do partido do presidente e o seu clã. Ameaças de saída do partido foram feitas e trocas de comando nas lideranças ocorreram. Esse fato pode atrapalhar a agenda de reformas, inclusive a da Previdência, embora a disputa se dê mais na Câmara do que no Senado. As outras reformas como a tributária, as privatizações, por estarem ainda no início da sua tramitação, possivelmente poderão ser afetadas. Evento negativo no curto prazo, mas que costuma se dissipar de forma muito rápida, igual a nuvens no céu. Pode e tende a se transformar em um drive neutro, ignorado pelo mercado.

Externos:
  1. Brexit: a saída do Reino Unido da União Europeia parecia se encaminhar para um bom desfecho até o fim de semana que passou, mas o Parlamento Inglês não aprovou o acordo entre o primeiro ministro e o bloco. Enquanto o Boris Johnson não aceita um adiamento, é isso que quer o parlamento. Ocorrerá um Brexit sem acordo até 31/10/2019? O impasse continua e o drive pode ser negativo nesse caso. O mercado não gosta de incertezas e esse fato pode provocar quedas nos mercados internacionais (Europa, Ásia e EUA), com reflexos no mercado local.

  1. Trade War entre China e EUA: embora a primeira fase do acordo seja algo provisório, parece que o pior desse cenário já passou. Tampouco está resolvido. Então, entendo que a curto prazo é um drive neutro a levemente negativo. Ainda ouviremos falar muito sobre isso e parece que quando uma pauta cansa, o mercado também cansa com ela e passa a não dar bolas. Caso a guerra se acirre, transforma-se em um drive bem negativo, com consequências para o crescimento global e se refletindo em correções fortes no mercado.

  1.  Mundo em Ebulição: notícias de protestos no Chile, no Líbano e em Hong Kong podem se alastrar para outros lugares. Parece que esses eventos são contagiosos e começam a pipocar para todos os lados de forma viral. Embora tenham causas diversas, parecem seguir uma lógica própria e se conectam de alguma forma. Caso continuem, pode ser um drive muito negativo, inclusive se iniciando em países que enfrentam problemas de outras naturezas, mas que podem ser alvo desse tipo de protesto, inclusive Reino Unido, por exemplo (pelas consequências de um Brexit sem acordo).

Os tópicos citados acima são aqueles mais visíveis, que estão no radar de todos e que tem impacto imediato e até previsíveis. Mas muitos outros podem estar à espreita quando menos esperamos. Os piores eventos são aqueles que não sabemos que não sabemos (unknown unknowns, de Donald Rumsfeld). Para esses, não há previsões e nem estimativa de impactos. E são esses que machucam. Foi apenas um exercício sobre como é possível elencarmos fatores importantes e que devem ser acompanhados, na montagem de um cenário para os investimentos.

Se só nos posicionássemos, quando não houvesse dúvidas e incertezas, jamais tomaríamos qualquer decisão de investimento. Precisamos continuar vivendo...e investindo, mesmo em um cenário incerto e cujo futuro é completamente opaco. Apenas podemos usar a nossa inteligência e procurar se beneficiar dos acontecimentos, mesmo os negativos.