Foi anunciado ontem
um plano agressivo da Amazon para o Brasil. Ela ofereceu um plano de assinatura
incluindo streaming de vídeo, acesso ao Amazon Music, ao Prime Reading, frete
grátis para uma infinidade de produtos, além de disponibilizar acesso a jogos.
Tudo isso por apenas R$ 9,90. Caso o assinante opte por um plano anual, o valor
fica ainda menor, apenas R$ 89,90 por ano ou R$ 7,50 por mês.
É um plano muito
ousado e agressivo e deve incomodar aos concorrentes em suas respectivas áreas.
O serviço de
streaming de vídeo concorrerá diretamente com a Netflix e cujo preço é um terço
daquele. O aplicativo está disponível na Apple Store, na Play Store do Android
e também nas smartvs. A empresa está oferecendo 30 dias para teste e após esse
período inicia o período da assinatura mensal ou anual, à escolha do cliente.
Em uma primeira
espiada, não há tantas opções de vídeos e séries como na Netflix e não vi
também muitos documentários. Mas é uma questão de tempo para que esse portfólio
vá aumentando, juntamente com produções próprias como já faz a concorrente.
Acho que a Netflix vai ter que contra-atacar ou com preço ou com adição de
novos serviços.
O Amazon Music, que
também compõe o pacote, concorrerá principalmente com o Spotify que cobra R$
16,90 pela assinatura mensal para acesso a músicas, rádios, playlists criadas
pelo usuário. Só esse serviço é mais caro do que todo o pacote da Amazon.
O Prime Reading
assemelha-se a uma assinatura de e-books, com acesso a um número limitado de
títulos a serem baixados para o aparelho Kindle, leitor da Amazon, ou o
aplicativo baixado em tablets e smartphones. Lembrando que a Amazon já oferecia
um serviço chamado Kindle Unlimited por R$ 19,90 por mês, com proposta
parecida. Agora esse serviço faz parte de um pacote mais amplo, por um valor
menor.
Mas talvez o que
tenha feito mais barulho tenha sido o frete grátis para uma infinidade de
produtos da Loja Virtual. E isso é o que interessa mais ao blog. Ontem, dia do
anúncio, as ações ligadas ao Varejo Online, como Via Varejo, Magazine Luiza,
Lojas Americanas e B2W caíram forte.
De fato, a Amazon já
atua na venda de livros e e-books há mais tempo no país e entrou recentemente na
venda de outros produtos e como market place. Agora tomou um próximo passo, que
certamente afetará a concorrência.
Não dá para
subestimar uma empresa do porte da Amazon. Uma das maiores empresas listadas na
Nasdaq, sobrevivente da bolha pontocom dos anos 2000 e entre as empresas mais
capitalizadas do mundo. As varejistas brasileiras não terão vida fácil.
A Magazine Luiza,
empresa que mais tem subido na bolsa nos últimos dois anos tem muita gordura
para queimar, em termos de preço da ação. Ao preço de fechamento de ontem, os
múltiplos de P/L está em 59,85, ou seja, o investimento retornaria ao acionista
em 59 anos; o P/VP em 15,93, o acionista está pagando 15 vezes o valor
patrimonial da ação, o que embute um crescimento esperado ao longo de vários
anos. O dividend yield da empresa no momento é de apenas 0,4%. Embora seja
alardeado como uma empresa que tem inovado no e-commerce e está mais preparada
para enfrentar a concorrência, não vejo como o preço da ação não converter em médio
prazo a níveis mais aceitáveis. Até por que o crescimento que a Magazine Luiza
vem apresentando pode não se sustentar com um concorrente de peso entrando
forte como agora.
A Via Varejo vem
enfrentando transformações, inclusive na sua composição acionária com a recente
aquisição do controle de volta pela família Klein. A empresa apresentou
prejuízo nos últimos 12 meses de cerca de R$ 554 milhões. Há ainda muito
trabalho a ser feito pela nova diretoria para voltar ao azul. Além da
concorrência interna que está à frente, agora virá ventos bem mais fortes do
norte. Em termos de preços da ação, o ativo chegou a atingir valores próximos a
R$ 8,50, mas vem em processo corretivo e encontra-se em patamar próximo a R$
7,00. O valuation não está tão esticado como a MGLU3; o P/VP está em
"apenas" 4,76 e o P/Ebit em 7,55, considerada até descontada sob esse
aspecto.
A B2W - Companhia
Global de Varejo, uma junção das Americanas.com, Submarino, Shoptime e
SouBarato, também tem apresentado números ruins e está exageradamente
precificada. O P/VP em 5,81, para uma empresa que apresenta prejuízo e não
distribui um centavo de dividendos, sem contar a margem líquida negativa,
certamente veremos quedas a médio prazo, para se adequar a essa nova realidade
de concorrência mais forte e economia estagnada.
Se optasse por me
posicionar em uma delas, minha escolha seria VVAR3 pelo valuation e pela
possibilidade de recuperação em médio prazo. A Magalu já foi, subiu
exageradamente e deve voltar. Mas no momento, além do varejo sofrer com a
não-retomada da economia e o alto desemprego, que inibe o consumo, sofrerá com
forte concorrência de um player internacional de peso. Nenhuma delas terá céu
de brigadeiro pela frente e acredito que os preços vão refletir isso.
Vamos acompanhar
essa história de perto, pois ainda falaremos muito dela.
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