Ontem, dia 7 de setembro foi o dia da Independência do Brasil. É algo simbólico, mas sempre lembrado
como aquele dia em que a nossa nação tornou-se um país livre do mando do nosso
colonizador, Portugal. A partir daquele momento, ganhou a prerrogativa de se
autodeterminar.
Mas somos mesmo
independentes? E a que tipo de dependência estamos hoje sujeitos? Somos um país
realmente livre e senhor do seu destino?
Na verdade, com a
globalização e a ampliação do comércio internacional todos os países
"perderam" um pouco da sua autonomia e, por que não dizer, da sua
soberania, pois não podem e não são autossuficientes em tudo. Dependem cada vez
mais da exportação para gerar divisas para a sua economia e da atração de
investimentos e capitais para financiar o seu desenvolvimento. E os países
emergentes, primários produtores de matérias-primas e commodities, como o
Brasil, estão ainda mais sujeitos a essa subordinação.
Como não produzem
bens com alto valor agregado, os termos de troca são desiguais. Vendem
mercadorias com baixo valor agregado e compram produtos industrializados com
alto valor. Os custos internos nesses países emergentes são normalmente maiores
e dificilmente conseguem competir com os países desenvolvidos, por isso a sua
indústria é subdesenvolvida e não conseguem produzir bens elaborados e
exportáveis para competir em igualdade de condições com outros países.
Outra deficiência
que impede isso, depara-se com a barreira da educação e da tecnologia. Não
dispõem de universidades e centros de pesquisa avançados para inovar e criar
novos produtos, novas patentes e até retenção de cerébros. Não há como substituir as importações de
máquinas e equipamentos, computadores e outros dispositivos tecnológicos por um
similar nacional, produzido aqui com mão-de-obra local, gerando empregos e
renda internamente. Essa dependência é difícil de ser eliminada.
E quanto aos
capitais? A internet e as novas tecnologias de interconexão mundial facilitam a
movimentação de divisas de um país para outro, de uma bolsa de valores para
outra, de títulos de um país para outro, buscando melhores rendimentos
comparativos entre os países. Como medida de protecionismo, alguns países até
tentam impedir a saída de capitais ou impõem alguma barreira para evitar a
fuga, mas não há uma forma eficaz de se fazer isso. Na hipótese de uma crise
internacional, a busca pela segurança provoca fuga de capitais dos países ditos
mais arriscados, estressando o câmbio desses países, consumindo as suas
reservas e provocando uma crise interna, com reflexo na inflação e nos custos de toda a cadeia produtiva.
Muitos desses países
utilizam como atração de investimentos, uma taxa de juros mais alta, para
compensar o aumento do risco, oferecendo retornos melhores. Após a crise de
2008/2009, para incentivar a retomada da economia, os países desenvolvidos
inundaram o mundo com forte injeção de dinheiro e taxas de juros até negativas.
Mas mesmo assim, com essa imensa quantidade de dinheiro em busca de rendimento,
os países emergentes e especialmente o Brasil, não conseguem sair da armadilha
dos juros altos, para não perder atratividade. A consequência disso é um
endividamento crescente, necessidade constante de refinanciamento dessa imensa
dívida e, portanto, outra forte dependência.
É verdade que a taxa
de juros no Brasil está em seus níveis mais baixos historicamente, mas ainda
muito alta em termos comparativos. Sem
contar a imensa diferença entre a taxa oficial dos títulos públicos, a
Selic, e a taxa cobrada pelos bancos brasileiros dos clientes e das empresas, o
chamado spread bancário. O custo interno de capital para os empreendedores
ainda é proibitivo, freando a retomada da economia. A burocracia para abrir um
negócio aqui, além do alto custo do capital, provoca o que chamamos de
"custo Brasil", dificultando a capacidade do país em criar novos
negócios, lançar novos produtos e gerar emprego e renda internamente.
A dependência por
financiamento público é crônica. O governo ainda precisa ser um grande indutor
de investimentos. Engraçado que aqui se prega uma diminuição do papel do estado
na economia, mas a iniciativa privada não tem sido capaz de substituir o investimento
público e ocupar esse espaço. Quando o Estado não investe, o investimento
torna-se pífio, principalmente em infraestrutura e outras grandes obras, como
geração de energia, portos, aeroportos e ferrovias. O empresariado brasileiro,
mal-acostumado à situação de esse risco sempre ter sido assumido pelo poder
público, quer entrar nesse negócio com tudo pronto. Aí pregam a privatização. É
ótimo receber tudo de mão beijada, a baixo custo e sem risco, com retorno
garantido. Como exemplo podemos citar as refinarias da Petrobrás. Não há
registro de investimento privado relevante nessa área aqui no país, mas a
Petrobrás pretende vendê-las prontas. Choverão interessados! Preço e consumo
garantidos e estrutura pronta para produzir, com baixo risco. Quem não quer?
Eu poderia citar
muitos outros fatores da sujeição brasileira , mas vou resumir os 3 citados
acima: desvantagem nos termos de troca internacional e necessidade de forte
exportação de commodities; dependência de juros altos para atrair investimentos
externos, provocando endividamento crescente; necessidade de financiamento
público da infraestrutura e das grandes obras, por desinteresse da iniciativa
privada em assumir esses riscos.
E a implicação disso
na nossa vida como investidor e na nossa independência financeira? O ambiente
econômico no qual trabalhamos, empreendemos, poupamos e investimos é
fundamental para a nosso sucesso. Mesmo que a nossa opção não seja empreender
diretamente, as empresas que escolhermos para investir via bolsa de valores são
influenciadas por esses fatores e por esses gargalos. E o nosso investimento
poderia até ser mais rentável, se tivéssemos um ambiente ideal para as empresas
crescerem. Mesmo assim, ainda é possível garimpar bons negócios no meio do
caos. Boas empresas, com vantagens competitivas, bem administradas, ainda darão
retorno aos acionistas, mesmo não estando em um ambiente ideal onde atuam.
Nesse ambiente de juros altos, endividamento crescente do governo e das
empresas, os bancos normalmente saem na frente. Não é à toa que os maiores
lucros costumam vir do setor financeiro. E não há indícios de que isso mude a
curto ou médio prazo. Mas outros setores também apresentam boa rentabilidade e
é possível diversificar e encontrar boas empresas, além do setor financeiro.
A nossa
independência financeira dependerá primeiramente da capacidade de poupar,
guardando parte do que ganhamos e investirmos bem. Essa independência
conquistada se traduzirá em fazer o que gosta, deixar de ser empregado, viajar,
aproveitar a convivência com quem amamos, enfim, a escolha dependerá do sonho
de cada um. E as escolhas que fizermos hoje pode ser o diferencial para sermos
independentes, mesmo que o nosso país não seja.
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