Pretendo escrever uma série de artigos, falando do que aprendi em mais de 4 anos de bolsa. Tenho muito a aprender ainda, pois o aprendizado é contínuo, mas o que consegui assimilar não cabe em um único artigo. Vamos ao primeiro.

A primeira ação que comprei foi a do Banco do Brasil (BBAS3), no dia 12/12/2014. Desde aquela data, já transcorreram precisamente 4 anos, 3 meses e 22 dias, e várias operações depois vou relatar o que aprendi nesse período. Essa é a minha experiência em bolsa até aqui. E é preciso tempo para ir percebendo o que funciona e o que não funciona, atravessando cenários bons e ruins, mercado de alta e de baixa, para compreendermos como isso nos surpreende o tempo todo e nos mostra que devemos ser humildes. Sempre estamos aprendendo. Sempre estamos cometendo erros e acertos.

Normalmente o primeiro passo é decidir não gastar tudo o que se ganha e separar parte para investir. O segundo passo é se aventurar além da poupança e da renda fixa. Foi o que fiz em 2014. Já tinha o hábito de poupar antes disso, mas não tinha segurança e conhecimento para aplicar em renda variável. Mesmo assim, comecei devagar comprando apenas 200 ações BBAS3. Depois Petrobrás, Vale etc. É o que o investidor iniciante faz: busca as empresas mais conhecidas, as ditas "blue chips", que são aquelas empresas de grande porte, já consolidadas no mercado, para depois ir conhecendo outras empresas menos badaladas, como as "small caps", por exemplo. Não estou dizendo que é a forma correta de começar, mas é o que fazemos. Comprar blue chips nos dá a falsa sensação de estar comprando um "imóvel", algo mais "sólido" e que não vai nos deixar na mão. Ás vezes é ledo engano. E normalmente é.

A dúvida mais cruel do investidor é o momento de vender. E esse dilema ocorre por que começamos sem saber que tipo de investidor somos: de longo prazo, curto prazo (swing trader) e daytrader. Aliás, nem sabemos que existe essa diferenciação. Imaginamos comprar algo por um preço e vender lá na frente mais caro, embolsando o lucro. Dificilmente alguém entra na bolsa já pensando em longo prazo. A filosofia "buy and hold" deve ser bem rara para um iniciante. Ele quer ver lucro no bolso. Isso é até bom para ganhar confiança. Pelo menos foi assim que pensava quando entrei. E diga-se de passagem, ainda penso assim. Longo prazo é o ato de investir em renda variável, não necessariamente com as mesmas ações. Essa é a primeira lição: ação é momento; se entrou no momento errado, até com boas empresas você perde dinheiro. Você até pode não ter perdido dinheiro nominalmente, mas o seu retorno foi menor do que o custo de oportunidade ou a renda fixa, por ter comprado caro. Falo disso no meu artigo "Comprando Ações: Preço Importa?". 

E falando de momento, me vem à mente a lição do mestre Warren Buffet, de que devemos comprar ao som de canhões e vender ao som de violinos. Ao perceber euforia no mercado, chegou a hora de vender. Não porque os fundamentos das empresas mudaram, mas porque o bom momento certamente é passageiro e você terá oportunidade de comprar as mesmas ações ou outras a preços bem melhores. O difícil nesse processo é saber exatamente o momento. E você não vai acertar. Vai sair cedo demais, deixando dinheiro na mesa ou demorar e perder o timing, saindo com menos do que poderia ter saído, pois a correção já ocorreu. Mas faz parte do processo. É impossível acertar topos e fundos. Sempre compramos mais caro do que a mínima e vendemos mais barato do que a máxima.

Segunda lição: descobrimos as boas e péssimas ações, quando se atravessa euforias e pânicos. Se na sua carteira ou no seu radar está uma empresa, cuja ação não sobe quando o mercado todo sobe, mas desce e até mais, quando todas caem, pode ter algo errado com ela. Isso talvez não prove que a empresa tem fundamentos ruins, mas constata que ela está sendo vista com reservas pelo mercado, já precificando algo que pode vir a ocorrer ou que está se materializando, que afetará os resultados futuros. Os fundamentos podem ainda estar bons, olhando para o passado, mas com tendência a se deteriorarem mais à frente. Não se engane em achar que se está avaliando a empresa pelo preço, mas de certa forma, se acreditarmos que o preço reflete todas as informações disponíveis sobre aquele ativo, e isso estiver ocorrendo há algum tempo e não somente na última semana, talvez queira dizer alguma coisa. E é aqui que cometemos os maiores erros: comprar um ativo porque ele caiu muito. Preço menor não torna a ação necessariamente barata.

Terceira lição: ações com bons dividendos não é garantia de retorno certo. Muitas vezes buscamos formar uma carteira de dividendos, olhando somente para o dividend yield. Esse indicador é um percentual representado pela divisão do dividendo pago pelo preço da ação. Quanto maior o percentual, melhor. A empresa pode ter distribuído dividendo no último período, com base em receitas não recorrentes, que não se repetirão nos próximos períodos ou esteja minando a capacidade de investir, ao distribuir todo o lucro ou até mais, quando o dividend payout é maior do que 1 (payout é o dividendo dividido pelo lucro). Ao não reter parte do lucro para reinvestir, torna a empresa dependente de capital de terceiros para se expandir. Uma outra questão é que todo provento distribuído é descontado do valor da ação. E quanto maior o provento, menor o preço da ação na data "ex". Falo disso no artigo "A Exdrúxula Regra de Exclusão dos Dividendos". O ativo terá que subir apenas para empatar com o capital que você alocou naquela ação. Aí os proventos não foram rendimentos de fato, mas parte do capital que voltou para suas mãos.

A quarta e última lição desse artigo: você não vai ficar rico do dia para a noite com ações. Sua independência financeira vai ser construída centavo a centavo, tijolo a tijolo. Por isso que no artigo "Empiricus e o Fenômeno Bettina" fiz críticas àquela campanha de promessa de lucro extraordinário em apenas 3 anos. Saiu notícia recente de que a empresa foi multada pelo Procon por propaganda enganosa. E em tempos de juros baixos, ganhar cerca de 10 a 15% em uma única operação, muitas vezes em apenas 3 a 6 meses é um retorno excelente, que supera em muito a renda fixa do período. Falo aqui dos adeptos do swing trade, como eu. Portanto, contente-se com lucros pequenos e constantes ao longo do tempo. Quando errar, perca pouco.


Bem, para esse primeiro artigo sobre meus 4 anos de bolsa, ficamos por aqui. Aquela primeira ação que comprei, a BBAS3, vendi 63 dias depois ganhando pouco mais de 1%. Não precisa nem falar que deixei dinheiro na mesa, claro. Quanto aos meus resultados nesse período? Ainda estou vivo no processo e com mais dinheiro do que entrei. Então, pelo menos até agora está dando certo.