Dando continuidade à série que fala do aprendizado de 4 anos investindo em renda variável, vamos falar de outras lições aprendidas durante esse período.

Vamos recapitular as 4 lições citadas no primeiro artigo:
  1. ação é momento; se entrou no momento errado, até com boas empresas você perde dinheiro.
  2. descobrimos as boas e péssimas ações, quando se atravessa euforias e pânicos.
  3. ações com bons dividendos não é garantia de retorno certo.
  4. você não vai ficar rico do dia para a noite com ações. 

A 5ª lição que tratarei nesse artigo é que você atravessará momentos de baixa significativa em todo o mercado, terá que ser persistente e manter a calma, pois esses momentos passam.

O contexto em que comecei a operar em bolsa foi no final de 2014, quando já havia se definido o desfecho da disputada reeleição da Dilma. O início do segundo mandato dela em 2015, já se iniciou com muita instabilidade, provocada por vários fatores, entre eles a deterioração do quadro econômico geral, com crescimento baixo em 2014, a não-aceitação do resultado eleitoral pelo adversário, oposição forte no Congresso liderado pelo Eduardo Cunha, revelações da Laja Jato etc. Para contextualizar, a máxima do IBOV nos últimos 2 anos havia sido de 64 mil pontos. Final de 2014, época que comecei, o índice fechou o ano com 62.550. Ao final, todos sabem que esse processo culminou com o impeachment da presidente e o início do governo Temer. O IBOV durante essa marcha atingiu o fundo em 37.046, no intraday de 20/01/2016. Uma perda acumulada de 40,77%.

Em um cenário como esse, todas as ações são afetadas e qualquer carteira ficaria no vermelho. Para alguém que está iniciando e só sabe o que é renda variável na teoria, assusta um pouco. Minha carteira chegou a registrar perda potencial de mais de 30%. Várias vezes cogitei a possibilidade de jogar a toalha, admitir que a renda variável não era para mim e vender tudo a valor de mercado e aplicar de volta na renda fixa pouco mais de 60% do meu capital original restante. Mas não fiz isso. Não com todas as ações.

O meu maior prejuízo até hoje registrado foi com a Magazine Luíza (MGLU3). É ironia que 2 anos depois ela tenha subido mais de 600%. Eu comprei MGLU3 em fevereiro/2015. Ela vinha de resultados excelentes em 2014 por conta da Copa do Mundo e do programa Minha Casa Melhor, que subsidiava a compra de eletrodomésticos para os beneficiários do Minha Casa, Minha Vida. O pior momento da ação foi quando anunciaram o fim desse programa. Nesse momento percebi que tinha entrado em uma boa empresa, mas no momento errado e sem levar em conta que os resultados passados estavam contaminados com receitas não recorrentes (elas não se repetiriam nos trimestres seguintes). Essa é a lição número 1 citada acima. Aproveitei um repique, avaliei que os fundamentos haviam mudado e aceitei perder mais de 50% do que havia investido. Meu PM só foi atingido 1 ano e 5 meses depois, em julho/2017. Era óbvio que isso ocorresse? Claro que não. E olhando em retrospectiva, acho que acertei o momento da saída. Meu erro foi na entrada, reforçando a lição número 1.

Depois de confirmado o impeachment e apostando em um governo Temer com viés liberal e apoiador de reformas, o mercado se recuperou, superou aquele topo histórico, até a próxima crise que foi o Joesley Day. Nesse período, recuperei todas as perdas e tive ótimos resultados em 2016 e início de 2017. Não por méritos próprios de análise e de escolha de ativos, mas por ter sido persistente em atravessar esse período difícil sem vender as ações que estavam performando mal. Em um mercado em franca alta, todos os ativos sobem, até mesmo ativos que não tem fundamentos perfeitos. Aí é momento de aproveitar a euforia, realizar os lucros e se livrar também de ativos problemáticos, até mesmo sem lucro ou com pequeno prejuízo. Uma limpeza na carteira. Foi o que fiz.

O episódio da gravação do Joesley, que fez o IBOV despencar 10% no dia da divulgação, acabou sendo passageiro nas cotações. Dois meses após, o índice recuperou boa parte das quedas. Mas os efeitos daquele episódio reverberaram até o final do governo Temer, com dois pedidos de impeachment, que fez o capital político ser gasto na defesa da permanência no poder, comprometendo o andamento e aprovação da reforma da Previdência. Nessa segunda crise eu já estava mais escolado e não teve impactos relevantes nos meus resultados.

Resumindo, a quinta lição é a persistência e a paciência nos momentos de crise, pois elas ocorrem com mais frequência do que imaginamos. E elas passam. As boas empresas sobrevivem e seu capital também.