O principal índice
da B3, o Ibovespa, tem atingido máximas históricas recentemente e se aproxima
da barreira dos 100 mil pontos. Tudo isso amparado na expectativa do novo
governo recém-empossado e na possibilidade de aprovação de reformas importantes
para o controle dos gastos, sendo a mais relevante a da previdência.
O mercado tem dado
um voto de confiança a cada passo dado pelo governo. A expectativa mais recente
era a eleição das mesas da Câmara e do Senado, fato concretizado neste
fim-de-semana.
A despeito da
dificuldade encontrada no Senado, o governo conseguiu emplacar seus presidentes
nas duas casas. Como o presidente de cada casa tem o poder de definir a pauta e
o ritmo das votações, esse é um fator positivo que será precificado na segunda
feira, 4 de fevereiro. O índice deve ultrapassar os 100 mil pontos no
intradiário. Resta saber se terá forças para permanecer até o final do pregão e
fechar acima dessa marca psicológica. Já há previsões de que ainda esse ano
atinja mais de 125 mil pontos.
O que poderia
atrapalhar essa festa? Quais seriam os fatores que poriam "água no
chop"?
Primeiramente, a
eleição no Senado não foi algo que possamos chamar de tranquila. O MDB, o maior
partido da casa, sofreu uma derrota histórica. A dúvida que paira no ar é se
esse fato deixará sequelas e levará o partido para uma oposição sistemática
contra o atual governo e as pautas que virão. Não é da natureza do MDB ser
oposição. Em todos os governos desde a redemocratização ele sempre se adaptou e
compôs a base do governo de ocasião, seja de esquerda, seja de centro ou de
direita. Será diferente agora? Mesmo que parte do MDB se alinhe ao governo, o
Renan e os seus aliados farão o mesmo? Na última votação ocorrida ontem, o
Renan ausentou-se do plenário e não participou. Pode ser um importante sinal.
Esse fato revela-se muito importante, pois as reformas constitucionais que
exigem quórum qualificado (emenda constitucional) dependerão dos votos do MDB
para serem aprovadas.
O caso do Eduardo
Bolsonaro continua vivo e capaz de causar estragos. A decisão do Ministro Marco
Aurélio de negar fórum privilegiado e não aceitar a suspensão das
investigações, remetendo ao Ministério Público do Rio de Janeiro para
prosseguir, ainda terá desdobramentos. A eleição de aliado do Planalto no
Senado pode barrar um pedido de prisão, uma cassação ou outra medida que limite
a atuação do filho do presidente. Mas continua uma questão em aberto que pode
respingar no próprio presidente, caso novas informações venham a ser
divulgadas.
No lado da economia,
os juros baixos e a inflação controlada continuam incentivando a renda
variável, diante do baixo rendimento da renda fixa. Dificilmente veríamos uma
correção muito forte do índice, com os juros nesse patamar.
O cenário externo
tem dado uma trégua. As bolsas americanas, depois de uma queda expressiva em
dezembro/18, têm demonstrado recuperação e já inverteram a tendência de baixa.
O crescimento baixo da China divulgado, menor dos últimos anos, pode provocar
estímulos que em um primeiro momento serão benéficos para o Brasil. Os fatores
internacionais que sempre provocam estresse nas bolsas, como a guerra comercial
entre a China e os EUA, o Brexit, entre outros, ainda aparecem como nuvens
negras no horizonte.
A tragédia de
Brumadinho e as consequências para a Vale não parecem estar totalmente
precificadas. As indenizações que terão que ser pagas, as ações abertas nos
EUA, os gastos para desativar as 10 barragens de rejeitos, conforme anunciado
pela empresa, com corte de 10% da produção nos próximos 3 anos, terão custos
ainda não totalizados. A queda nas ações inicialmente de 24,5% e recuperação
parcial nos dias seguintes, me parece ainda pouco diante de tanto fator
negativo divulgado. Em resumo, o impacto financeiro e na imagem da empresa
ainda não estão devidamente precificados pelo mercado. Mais quedas virão. Pelo
peso no índice, a consequência é óbvia. A valorização de outros ativos
compensou o impacto da Vale no Ibovespa. Sem esse fato, o índice já estaria
acima dos 100 mil pontos.
O investidor
estrangeiro parece finalmente está voltando. Enquanto os investidores locais
compravam, os gringos vendiam até início de janeiro. Agora que o capital
estrangeiro virou a mão, os locais venderão e realizarão lucro ou surfarão a
alta mais um pouco? Muitos ativos já subiram bastante, elevando seus
indicadores. O resultado forte dos bancos no 4º trimestre impulsionou os ativos
do setor, que estão em suas máximas históricas. Há mais espaço para alta?
São muitas perguntas
que serão respondidas ao longo do próximo semestre. A tendência para a renda
variável parece ser positiva. Comprar ativos nesses níveis torna a assimetria
negativa na maioria dos casos: pouco para ganhar, muito para perder. Quem já tiver
se posicionado desde dezembro, já está ganhando muito dinheiro e pode melhorar
um pouco. Deve proteger o lucro até então conquistado e realizar ao primeiro
sinal de tempestade. Entrar agora requer muito cuidado e em ativos que ainda
estão atrasados nesse rali.
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