Tanto na literatura
especializada, como nos conteúdos encontrados nos sites, blogs e portais que
tratam de investimentos, sempre falam da importância de se ter uma estratégia
de investimentos, qualquer que seja o prazo utilizado. Não é diferente com ações.
Então vamos falar de cada um deles:
Longo Prazo
5 a 10 anos ou mais
- Os investidores que optam por adquirir ações para longo prazo, buscam
empresas com bons fundamentos. Mas o que seriam "bons fundamentos"?
Os principais são lucros consistentes e crescentes ao longo dos anos, forte
geração de caixa, baixo endividamento, boas margens, negócio com vantagens
competitivas, que dificultem a entrada de novos concorrentes etc. Os adeptos
dessa escola são normalmente chamados de "Value Investors" ou
Investidores de Valor. Os nomes mais badalados dessa forma de investir são
Benjamin Graham e Warren Buffet. O primeiro é considerado o precursor da
estratégia "Buy and Hold", que significa "comprar e
segurar", em tradução livre. O foco dessa estratégia é tornar-se sócio de
empresas sólidas, com perspectivas de geração de caixa e mantê-las no portfólio
de investimentos por um longo período, objetivando maximizar o retorno em
lucros, reduzir os custos excessivos das transações e do imposto de renda. O
segundo nome citado é o bilionário seguidor do primeiro, principal acionista da
Bekshire Hathaway, que fez fortuna utilizando essa estratégia de investimentos.
É certo que Warren Buffet foi até além disso, não apenas comprando
participações passivas no capital das empresas, mas muitas vezes adquirindo o
controle de companhias e influenciando diretamente na gestão e na estratégia
delas. No entanto, a filosofia sempre foi a de adquirir boas empresas a ótimos
preços. E aqui está uma das características principais desse modelo: comprar
empresas descontadas que, embora tenham bons números, por algum motivo
temporário, o mercado esteja subprecificando o seu valor. Ao comprar, o
investidor obtém uma margem de segurança, levando mais valor do que o preço que
pagou, ou, como diz o Buffet, comprando "um real por 50 centavos".
Por isso, a denominação dessa estratégia é Investimento em Valor, pois
"preço é o que você paga, valor é o que você leva". A opção pelo
longo prazo é a expectativa de que o tempo fará o preço convergir para o valor
real da empresa. E enquanto a empresa mantiver as condições que justificaram a
sua escolha, a ação permanece na carteira rendendo os lucros distribuídos e/ou
valorizando o seu valor e gerando ganho de capital.
Quais as vantagens
dessa estratégia? Os principais seriam:
diminuição dos custos de transação e do imposto de renda; retorno
periódico em dividendos; redução do desgaste do investidor em ter que
acompanhar as cotações diariamente; possibilidade de estar posicionado em
ativos nos longos ciclos de valorização que ocorrem no mercado, entre outras.
E as desvantagens?
Não aproveitamento dos ganhos rápidos de curto prazo, uma vez que não vendendo
as ações nos topos, não realiza o ganho de capital; sujeição às grandes crises
e crashs que ocorrem, os chamados "cisnes negros" no entender do autor
e ensaísta Nassim Nicholas Taleb (falaremos dele nos próximos posts); longa
espera para ver o seu patrimônio crescer, dependendo de aportes, para maximizar
o aumento dos dividendos; necessidade de conhecimentos sobre a contabilidade e
os balanços, para identificar bons descontos nas ações.
Médio Prazo
3 a 5 anos - o que
pode diferenciar em relação aos de longo prazo, é que a estratégia aqui não é
"Buy and Hold", comprar e segurar. O investidor desmontará a sua
posição quando entender que o preço convergiu para o valor intrínseco da
empresa, ou seja, não há mais margem de segurança no investimento, mesmo que a
empresa não tenha perdido seus fundamentos. A interpretação é que o mercado
sobreprecificou o ativo, além dos seus fundamentos e chegou a hora de realizar
o ganho de capital. Os critérios para escolha da empresa são os mesmos dos
citados para o longo prazo, recaindo sobre empresas com bons fundamentos, em
crescimento ou até em turnaround, mas o momento da compra torna-se muito
importante. A escolha do timing será fundamental para o sucesso nessas
operações. A utilização do histórico das cotações, identificando os pontos em
que a ação atingiu os menores valores (suportes) gera mais margem de segurança.
As vantagens e
desvantagens do longo prazo parecem se aplicar também nesse caso. Exceção para
os custos de transação e de imposto de renda, que nesse caso serão maiores, mas
não tão relevantes como operações de prazo menor. Também não há necessidade de
acompanhamento diário das cotações, o retorno em dividendos continua relevante
e pode-se surfar bons ciclos de valorização nesses prazos. Há uma combinação de
conhecimentos dos fundamentos e também um pouco de análise técnica.
Curto Prazo
Semanas a meses, até
2 anos - as operações em curto prazo são denominadas de swing trade. São
aquelas operações superiores a um dia e pode durar meses. A análise técnica é
prioritária. O conhecimento da Teoria de Dow, a identificação da tendência nos
diversos tempos, os suportes, as resistências, as figuras de reversão etc, são
dados importantes para a escolha do ativo e para o momento da entrada e da
saída.
Na montagem da
operação deve-se fazer o estudo da assimetria (a matriz de risco x retorno): se
der errado quanto vai perder e se der certo quanto vai ganhar; normalmente a
proporção é de 1 para 2 ou 1 para 3. O
uso do stop é importante. Pode-se usar o stop técnico, já predefinido no
momento da abertura do trade ou pode-se utilizar o stop inteligente, que
entendo como aquele em que, após o ativo cair além do esperado, aguarda-se
repique e efetua a venda, desmontando a operação com pequena perda. O risco do
uso do stop técnico é o que os operadores chamam de "violinada": o
ativo desce até o ponto de stop, encerra sua operação e volta a subir; isso
ocorre quando o stop é muito curto e já está predefinido. Por isso, sou adepto
do stop inteligente. As operações de curto prazo também podem ser na ponta
vendedora, surfando uma tendência de baixa.
As vantagens:
aproveitamento da volatilidade de curto prazo, realizando ganhos rápidos; em
caso de grandes crashs, a probabilidade
é menor de estar posicionado, uma vez que a rolagem das operações ocorre em
curto espaço de tempo e com apenas parte do capital; não há necessidade de
grande conhecimento contábil.
As desvantagens: os
custos de transação e de imposto de renda são relevantes e podem comprometer
parte da rentabilidade, quanto mais curtas forem as operações; desgaste
emocional maior, pois o acompanhamento das cotações torna-se obrigatório; perda
dos grandes ciclos de alta, aqueles de duração maior; necessidade de manter-se
informado sobre muitos assuntos, tanto os específicos das empresas como sobre o
cenário político e econômico que influencia nas cotações e na volatilidade.
Curtíssimo Prazo
Essas operações são
chamadas de day trade. A compra e a
venda ocorrem dentro de um mesmo pregão. A análise técnica aqui é o único fator
utilizado. Os fundamentos não interessam ao especulador. A escolha recai sobre
ativos com volatilidade histórica alta ou que tenha sido anormalmente aumentada
por algum fato ou notícia, específico da empresa ou que afeta todo o mercado.
Os pontos de entrada são definidos no gráfico, normalmente acompanhando a
tendência de curto prazo, utilizando os tempos gráficos curtos de 15 minutos ou
60 minutos, para definição do momento da entrada e o alvo esperado. O stop aqui
é obrigatoriamente definido a priori. Estipula-se o quanto está disposto a
perder caso o ativo não ande no sentido esperado pela operação, que pode ser de
compra (expectativa de alta) ou de venda (expectativa de baixa).
A principal
desvantagem dessa estratégia são os altos custos de corretagem, devido às
inúmeras operações que são realizadas em um curto espaço de tempo. Embora
muitas corretoras tenham pacotes de corretagem para daytraders, visando diminuição de custos, o processo é altamente
vantajoso para elas, pois os analistas da casa são incentivadores dessa
intensificação, gerando enormes ganhos para a corretora. Particularmente, não
acredito nessa estratégia como forma de conquistar a independência financeira.
Não conhecemos muitas histórias de daytraders
que tenham feito fortuna com essa forma de operar.
Essas operações de
curto prazo exigem atenção e acompanhamento durante o pregão e não permite que
alguém que tenha um emprego de tempo integral possa fazê-las. As outras exigem
pouquíssimo tempo para a análise e escolha do ativo e tudo isso pode ser feito
à noite ou durante os fins de semana. O registro das ordens pode ser feito fora
dos horários do pregão normal da bolsa e não há necessidade de acompanhamento
diário.
Entendo que a
combinação de mais de uma estratégia de investimentos seja a forma mais
inteligente de investir. O investidor pode montar uma carteira de dividendos,
com empresas bem alicerçadas em fundamentos, para longo ou médio prazo (uma das
duas estratégias fundamentalistas) e, ao mesmo tempo, separar uma pequena parte
do capital para fazer apostas de prazo menor, aproveitando as oscilações de
curto prazo para alavancar os ganhos.
Enfim, a opção feita
vai depender do perfil do investidor, do conhecimento que ele adquiriu para as
várias modalidades e também do tempo necessário para montar e acompanhar essas
operações. Aos mais resilientes e pacientes, o longo e médio prazos; aos mais
ansiosos, as operações de curto prazo e, aos afoitos e que gostam de
adrenalina, as de curtíssimo prazo.
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