A economia tradicional tem como uma de suas premissas o conceito do "homo economicus". O homem, nas suas relações econômicas do dia-a-dia, faria as melhores escolhas de forma racional. Toda a teoria econômica convencional baseia-se nessa premissa.
A partir dos estudos de diversos cientistas, utilizando-se dos conceitos originários da Psicologia, refutaram essa premissa e desenvolveram uma nova ramificação que passou a ser denominada Economia Comportamental. O homem na verdade age influenciado por suas emoções e sentimentos, tomando decisões em todos os aspectos da sua vida, inclusive no econômico. Essas escolhas, a maioria das vezes, não são racionais como a economia tradicional considera.
Os maiores expoentes dessa corrente foram os estudiosos israelenses Amos Tversky e Daniel Kahneman, ganhadores do Prêmio Nobel de Economia de 2002. Recomendo a leitura do livro "Rápido e Devagar - Duas Formas de Pensar", que aborda os dois processos de pensamento: a rápida, intuitiva e emocional; a outra, mais lenta, deliberativa e lógica. Ele também aborda os defeitos e vícios do pensamento intuitivo, os vieses cognitivos, como o viés de confirmação, que seria superdimensionar as informações que corroboram o que já foi escolhido antes, e ignorar as assertivas contrárias; o excesso de confiança, também é um dos defeitos explorados no livro, entre outros.


Outro autor que foi também premiado pelo Nobel mais recentemente e que contribuiu para o desenvolvimento e a importância da Economia Comportamental, foi o Richard H. Thaler, autor dos livros "Nudge - O Empurrão para a Escolha Certa" e o mais recente "Misbehaving - A Construção da Economia Comportamental". No primeiro livro, ele examina essas questões e constata que nossas escolhas podem ser influenciadas por um pequeno "empurrão", seja para o lado certo ou para o lado errado. E defende que os governos podem fazer essa boa "sugestão", nas suas políticas públicas. No segundo livro,  mergulha na origem da Economia Comportamental, mostrando que nossas escolhas, amparadas em preconceitos, nos afasta da racionalidade e da razoabilidade e tendemos a desenvolver um mau comportamento e nos desviarmos nas escolhas, com consequências graves. 

Trazendo para o dia-a-dia do investidor, esses conceitos fazem muito sentido e explicam o comportamento caótico dos mercados.  Quantas vezes nos perguntamos sobre as reações absurdas a certas notícias ou eventos que ocorrem e se refletem nas cotações. Não parece fazer sentido por exemplo, uma empresa divulgar um ótimo resultado e a ação cair exageradamente. Ou mesmo, um evento que impacta negativamente uma empresa, mas numa dimensão pequena e o mercado superprecifica para baixo esse fato. Isso se explica, pois por trás de cada movimento do mercado, existem pessoas comuns como eu e você, agindo a partir de suas emoções e sentimentos, seus vieses e suas intuições.
Quando compramos uma ação e ela cai além do preço que imaginávamos, gerando um prejuízo potencial, já mentalizamos que quando a ação subir até o preço de entrada, estaremos prontos para se desfazer do ativo e partir para outro. Quando o preço ensaia uma recuperação, para nós já é lucro. Nos livramos da dor da perda. Racionalmente falando, se compramos aquela ação baseada em fundamentos e estes não mudaram, não há sentido em vender para se livrar do "incômodo". Esse é apenas um exemplo do quanto nossas emoções afetam nossa forma de operar e de investir.
Os erros que cometemos, tanto no momento da entrada como na escolha da empresa para investir, nos afeta para as próximas escolhas. Há uma máxima que diz que você é um investidor bem-sucedido ou fracassado, baseado no seu último trade. Parece que no subconsciente aquele erro que está vivo na memória lhe afeta e mina sua confiança, mais do que os acertos anteriores.
Ser um bom investidor é muito mais do que simplesmente escolher bons ativos, a partir de certas premissas. É necessário se conhecer e saber dos erros cognitivos que cometemos de forma inconsciente, por sermos humanos, e que nossas escolhas não são racionais como a economia tradicional apregoa.
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