Desde o fundo de 18
de março, próximo a 61 mil pontos, o Ibovespa já recuperou uma parcela
significativa e já atingiu por volta de 82 mil pontos. No momento em que
escrevo está por volta de 78 mil pontos.
Os investidores,
muitos induzidos pelas corretoras e analistas de mercado, entenderam que todas
as informações negativas já estavam no preço e voltaram às compras, elevando as
cotações da maioria dos ativos. Mas será que já sabemos dos estragos que essa crise
provocará?
A resposta bastante
óbvia é que não sabemos. O lockdown ainda nem tem data para acabar e, mesmo que
tivesse, qualquer prognóstico sobre os seus efeitos seria prematuro. As
empresas de ramos diversos da economia estão praticamente sem faturar desde
meados de março/2020 e, ao reabrirem, vão se deparar com outro cenário
diferente do que deixaram quando fechou:
desemprego em alta, redução da renda dos ainda empregados e pequenos
negócios e muita prudência do consumidor para gastar, mesmo para aqueles que em
um primeiro momento não tiveram redução de renda.
Nada mudou de forma
positiva desde o fundo de 18 de março. Os casos nos EUA só crescem. No Brasil,
ainda não atingimos o topo da curva e o número de casos está subestimado pela
ausência de testes em muitos locais, combinado com a não comunicação de muitos
casos pouco sintomáticos ou assintomáticos.
Os investidores
estão comprando ações, olhando para múltiplos do passado. E eles são bonitos.
Mas e quando forem recalculados pelos próximos dois resultados trimestrais?
Lucros irão cair, alguns mais outros menos, a depender do setor onde atua a
empresa, mas certamente serão menores. E os múltiplos que tem por base o lucro,
como o P/L, o dividend yield, o dividend payout, etc, reprecificarão ativos que
hoje parecem baratos. No post anterior "Depois
do Crash Recente é Hora de Comprar? escrito em 15/03/2020 eu afirmo que não
era momento de comprar ainda. E agora? Continuo com a mesma convicção. O fundo
recente ainda será testado e talvez até ultrapassado até final de julho/2020,
quando viermos a conhecer os resultados do 2º trimestre das companhias. A hora
de comprar será após aquela data.
É claro que nem
todos os ativos caminham na mesma velocidade e é possível que alguns caiam mais
fortemente do que outros, tanto pelo setor que será mais afetado, como pelo
beta que costuma ser mais alto (caem mais quando o mercado cai; sobem mais
quando o mercado volta).
O que mais pergunto
é qual o motivo de ações como CVCB3, GOLL4, SMLS3 terem subido tanto desde o
fundo, quando todos sabem que o setor de viagens e turismo será o mais afetado
e mesmo com a volta à atividade, muitos ainda ficarão receosos de viajar e de gastar. Sem contar
que, se a viagem for internacional, ainda enfrentamos o problema do câmbio, que
inviabiliza qualquer planejamento.
Podemos elaborar o
mesmo raciocínio para diversos setores que serão afetados em graus diferentes e
percebemos que não há motivos para a recuperação recente. Racionalmente
falando, o motivo para subir nunca deve ser porque caiu muito. Ainda pode cair
muito mais e é altamente provável que isso ocorra. Vejo mais sentido em operar
vendido, seja efetuando a venda do ativo ou por meio de puts com vencimento
para junho ou data posterior.
O mercado voltou às
compras como se não houvesse amanhã, mas há um amanhã se desenhando com ativos
mais baratos do que estão hoje. O mercado ainda poderá ser um pouco mais insano
e levar o Ibov para 85 mil ou um pouco mais, mas o caminho natural até o início
do segundo semestre é o retorno para o seu fundo mais recente e para mínimas
ainda não registradas esse ano. Quem viver, verá!
0 Comments
Postar um comentário
Deixe seu comentário aqui! Críticas, sugestões, elogios. Responderei o mais breve possível.