Desculpem os
fundamentalistas, mas o que vou escrever aqui pode ofender aos "buy and
holders" raízes. Como investem essas pessoas? Elas buscam empresas
sólidas, com boa lucratividade, altas margens, que atuam em setores com
barreiras à entrada de concorrentes, que geram caixa consistentemente e pagam
dividendos. Toda essa conversa que já conhecemos.
Os que adotam essa
forma de investir acreditam que ao longo do tempo essas empresas apresentarão
crescimento nos lucros, com consequente valorização das suas ações. A ideia é
manter em carteira indefinidamente, reinvestindo os dividendos na compra de novas
ações, fazendo aportes regulares ao longo do tempo para ver o patrimônio
crescer e conquistar a independência financeira, utilizando o poder dos juros
compostos a seu favor.
Dos maiores
expoentes do estilo fundamentalista, talvez o maior, seja Warren Buffet. Para
ele o ideal era não vender jamais uma ação, pois assim não pagaria imposto
algum sobre o ganho de capital. Se as condições que o fizeram tomar a decisão
de investir naquela empresa permanecerem, segundo esse pensamento, não haveria
motivos para se desfazer dessa posição. Uma primeira pergunta importante: se
nunca vender realizando o lucro (ganho de capital) e não usufruir dos
dividendos recebidos, quando essa riqueza será de fato apropriada e usufruída?
No meu artigo
"A Exdrúxula Regra de Exclusão dos Dividendos do Valor da Ação" eu
questiono o porquê do ajuste que é feito na data "ex". O valor é
descontado do preço de fechamento do dia anterior e abre ajustado para baixo.
Na prática, você não ganhou coisa alguma. Recebeu de volta parte do que
investiu. Se o ativo voltar a subir para o ponto em que fechou ou até mais,
você recupera, mas caso decida vender, você realiza prejuízo se a ação estiver
abaixo do seu preço de entrada. Então os dividendos não foram ganhos efetivamente.
O estranho de tudo isso é que se fosse feito na contabilidade até seria
razoável, mas mexer com o preço definido pelo mercado não parece ser correto.
E os dividendos
distribuídos no Brasil são pífios. A partir de uma pesquisa feita no site Fundamentus, encontramos 85
ativos cujo Dividend Yield é maior do que 5%. O Dividend Yield é a divisão do
valor distribuído pelo preço da ação. Se uma ação custa R$ 10,00 e o dividendo
distribuído foi de R$ 1,00 por ação, então o dividend yield foi de 10%. No
canto superior esquerdo na seção "busca avançada por empresa" você
preenche a linha "dividend yield" com o valor "0.05", no
campo "mínimo", para filtrar os dy acima de 5%.
Extraí uma consulta com dividend yield a partir de 1%. Lembrando que esse percentual é por ano (últimos 4 trimestres até o 3º de 2019 já divulgado). O universo de empresas listadas na B3 é de cerca de 330. A consulta me retornou 224 papéis com dividendos superiores a 1%. Cabe esclarecer que algumas empresas tem até 3 papéis listados (ordinária, preferencial e Unit). É o caso da ALUPAR, que tem os ativos ALUP3, ALUP4 e ALUP11 e aparece na consulta. Contando somente empresas, temos 153 que distribuíram dividendos acima de 1% em um universo de 330, representando 46%. Para os outros 56% não houve rendimento relevante no período. E estou considerando 1% como relevante, o que na verdade não é, pois a renda fixa paga 5%.
Vamos brincar mais um pouco com esses números. Considerando que a taxa Selic atual é de 5%, quantos ativos tem um rendimento maior do que isso? Dos 224 ativos (153 empresas), 85 ativos pagam mais do que a Selic. Parece bom, mas representa somente 25% do universo de empresas. Podemos argumentar que é possível formar uma boa carteira escolhendo entre esses ativos. E de fato é verdade, mas com algumas ressalvas. A escolha deve ser feita levando em conta outros critérios, como por exemplo a liquidez do ativo, se o dividendo do último exercício é ou não recorrente, se a empresa tem bons fundamentos, como boa rentabilidade sobre o patrimônio (ROE), se está bem precificada (P/L baixo), etc.
É certo que ao efetuar cortes por outros critérios, sobrarão poucos ativos em que se possa formar uma carteira longeva e rentável que cubra a renda fixa. E não custa lembrar que como os dividendos são descontados do valor da ação, ela tem que se valorizar na mesma proporção apenas para manutenção do capital investido de forma nominal. Ser quiser cobrir a inflação do período, o ativo terá que se valorizar mais do que o que foi descontado.
Para viver de dividendos, precisa que o capital seja bem relevante. Vamos supor que as despesas de uma família de classe média seja de R$ 10 mil mensais ou R$ 120 anuais. Com uma média de 5% de dividend yield, precisaria dispor de uma carteira de R$ 2,4 milhões. Pouco investidor tem tanto assim acumulado.
Para concluir, o retorno dos investimentos em renda variável tem que ser temperado com ganhos de capital, pois só os dividendos não são suficientes. Até pode-se balancear uma carteira de dividendos com outra para swing trade de prazo curto a médio. Esse é o sal para um portfólio insípido de ativos somente de renda. E mesmo que os ativos para dividendos se valorizem, não é renda até que sejam realizados.
Extraí uma consulta com dividend yield a partir de 1%. Lembrando que esse percentual é por ano (últimos 4 trimestres até o 3º de 2019 já divulgado). O universo de empresas listadas na B3 é de cerca de 330. A consulta me retornou 224 papéis com dividendos superiores a 1%. Cabe esclarecer que algumas empresas tem até 3 papéis listados (ordinária, preferencial e Unit). É o caso da ALUPAR, que tem os ativos ALUP3, ALUP4 e ALUP11 e aparece na consulta. Contando somente empresas, temos 153 que distribuíram dividendos acima de 1% em um universo de 330, representando 46%. Para os outros 56% não houve rendimento relevante no período. E estou considerando 1% como relevante, o que na verdade não é, pois a renda fixa paga 5%.
Vamos brincar mais um pouco com esses números. Considerando que a taxa Selic atual é de 5%, quantos ativos tem um rendimento maior do que isso? Dos 224 ativos (153 empresas), 85 ativos pagam mais do que a Selic. Parece bom, mas representa somente 25% do universo de empresas. Podemos argumentar que é possível formar uma boa carteira escolhendo entre esses ativos. E de fato é verdade, mas com algumas ressalvas. A escolha deve ser feita levando em conta outros critérios, como por exemplo a liquidez do ativo, se o dividendo do último exercício é ou não recorrente, se a empresa tem bons fundamentos, como boa rentabilidade sobre o patrimônio (ROE), se está bem precificada (P/L baixo), etc.
É certo que ao efetuar cortes por outros critérios, sobrarão poucos ativos em que se possa formar uma carteira longeva e rentável que cubra a renda fixa. E não custa lembrar que como os dividendos são descontados do valor da ação, ela tem que se valorizar na mesma proporção apenas para manutenção do capital investido de forma nominal. Ser quiser cobrir a inflação do período, o ativo terá que se valorizar mais do que o que foi descontado.
Para viver de dividendos, precisa que o capital seja bem relevante. Vamos supor que as despesas de uma família de classe média seja de R$ 10 mil mensais ou R$ 120 anuais. Com uma média de 5% de dividend yield, precisaria dispor de uma carteira de R$ 2,4 milhões. Pouco investidor tem tanto assim acumulado.
Para concluir, o retorno dos investimentos em renda variável tem que ser temperado com ganhos de capital, pois só os dividendos não são suficientes. Até pode-se balancear uma carteira de dividendos com outra para swing trade de prazo curto a médio. Esse é o sal para um portfólio insípido de ativos somente de renda. E mesmo que os ativos para dividendos se valorizem, não é renda até que sejam realizados.
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