Há um ditado popular
que diz que "quem nunca comeu mel, quando come se lambuza". Essa
máxima significa o deslumbramento com algo novo, a falta de trato com algo que
o sujeito não conhece e com o qual não sabe lidar.
O mesmo acontece com
alguém que nada tinha e de repente se ver com uma fortuna em mãos. É o que
ocorre com um ganhador da loteria. Quantas histórias foram contadas de pessoas
que eram pobres, ganharam na Mega Sena e gastaram tudo em pouco tempo. Acharam que
a fortuna era infinita e saiam ostentando, comprando carros de luxo, viajando
pelo mundo e doando a parentes até o último centavo.
É como vejo o
governo e o momento atual. Começou uma campanha há uns 2 anos atrás, como algo
improvável, foi crescendo ao longo do tempo, ajudado por uma série de
circunstâncias, como o atentado por exemplo, e culminou com a vitória no
segundo turno.
Já mencionei aqui em
outro artigo que a falta de debates e cobranças da imprensa e do eleitorado ao
candidato, facilitou a eleição de alguém que todos sabiam ser incapaz de
governar um país tão complexo, sem um plano de governo consistente e um projeto
de país.
O mercado, apostando
na equipe econômica com viés liberal desde a campanha, imaginou que as coisas
andariam sozinhas, bastava a vontade política para isso. Sempre vi isso com uma
certa perplexidade. É como alguém que está namorando, percebe os defeitos do
outro, mas acha que no casamento tudo será diferente. Ledo engano. Quem não te
conhece que te compre.
Com mais de 60
milhões de votos, esse governo recebeu uma bolada, mas a capacidade de gastar o
capital político em coisas supérfluas mostrou que não importa o tamanho da
fortuna, se não souber "investir" em algo que renda, o dinheiro
acaba. E parece que o saldo da conta já está negativo.
Não foi por falta de
aviso de vozes experientes e de exemplos como o governo Collor e o governo
Dilma: há uma importância fundamental para a sobrevivência que é a
governabilidade. O trato com o Congresso e a articulação política, combinada
com uma boa comunicação é mais importante do que mesmo as propostas concretas.
Não existe "nova política", existe política. Ou se faz ou não se faz.
E não precisa ser feita com fisiologismos, mas com convencimento de que o que
se está propondo é importante para o país. Os parlamentares, cientes disso,
votarão por sua própria sobrevivência, pois o eleitorado irá cobrar deles (ou
deveria) o apoio para questões cruciais para o futuro.
A Dilma ignorou
esses sinais e caiu. Esse governo também tem ignorado até agora os avisos e
sinais para mudar a postura. Fará isso a tempo?
Trazendo para o
campo da bolsa, o Ibov a 100 mil pontos embute a expectativa de aprovação da
reforma. De alguma reforma. E não é qualquer reforma. Tem que ser uma que não
tenha só a economia como fim em si mesmo, mas corrija distorções e diminua os
privilégios de alguns grupos. E a que foi proposta não faz isso. O principal
índice da bolsa já se encontra próximo a 90 mil pontos e ainda tem gordura para
queimar se o mercado perceber que não haverá mudança de postura e é o que está
ocorrendo agora.
Abri esse artigo com
um ditado popular, vou fechar com outro: como na história do elefante e do
escorpião que atravessam o rio, é da natureza do escorpião ferrar. Mais cedo ou
mais tarde acaba mostrando o que realmente é. E esse escorpião não esperou o elefante
atravessar o rio para agir.
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